Título: André, o homem dos cálculos, não tem o que fazer
Autor: Sérgio Leo e Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2005, Brasil, p. A4

"Estou frustrado. O que estou fazendo aqui?" Com o computador debaixo do braço, André Nassar repetia a indagação enquanto perambulava pelos corredores da conferência ministerial de Hong Kong. Diretor-executivo do Icone, instituto de assessoria econômica ao agronegócio brasileiro, Nassar não cessou de fazer cálculos e estudos que sustentaram o G-20 com apoio técnico para a atuação do grupo na negociação agrícola na OMC. Nas semanas pré-Hong Kong, ele podia ser visto no centro da mesa nas reuniões do G-20 em Genebra, cercado por negociadores, enquanto fazia simulações matemáticas. Doutor em economia internacional, 33 anos, ele veio a Hong Kong na expectativa que haveria alguma barganha entre os países. Ligaria, então, o computador, para calcular para o G-20 o que isso podia significar em termos de exportação ou importação. Só que a montanha de cifras, fórmulas e tabelas está arquivada em sua máquina, sem uso, por absoluta ausência de negociações. "Ando de lá para cá", disse. Nassar se indaga se o governo ainda vai precisar dele num futuro próximo. Até três anos atrás, o Brasil dependia dos trabalhos técnicos da Austrália na negociação agrícola. Com o apoio do Abare, um instituto de pesquisa em Sidney, os australianos davam a substância para as propostas. O Ícone foi criado com dinheiro do agronegócio para corrigir essa falta no Brasil. "O trabalho do Ícone tem sido da maior importância para preparar nossas propostas", diz o embaixador brasileiro na OMC, Clodoaldo Hugueney. Antes de retornar no começo da noite para o hotel, André Nassar não escondia o pessimismo sobre o rumo da negociação agrícola. "Acho que vou precisar calcular quanto a agricultura brasileira pode deixar de ganhar sem a rodada", disse, ensaiando abrir o computador. (AM e SL).