Título: Lula rebate críticas à política econômica
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2005, Política, p. A9

Crise Para o presidente, redução da pobreza e da desigualdade mostra que não houve prejuízo aos avanços sociais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de ouvir críticas de uma das integrantes do Conselho de Segurança Alimentar (Consea), defendeu ontem, mais uma vez de forma enfática, a política econômica do governo, afirmando que é preciso fazer um balanço correto para que "a gente não diminua as conquistas, senão fica muito difícil não valorizar o que nós conquistamos". Lula se disse feliz com os números do Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), mostrando que a pobreza e a desigualdade social diminuíram em 2004. Lembrou que o governo só tem 36 meses e que, se mais não foi feito, é porque o primeiro ano de gestão foi de ajuste fiscal. Mas alertou: "Quero dizer para vocês que, para mim, a política econômica nunca foi empecilho para a política social". Lula compareceu à abertura do Consea, embora sua presença não estivesse prevista na agenda oficial. Ouviu da conselheira Maria Emília Lisboa Pacheco que muitas das reivindicações e medidas aprovadas pelo Conselho não são levadas em conta pela Presidência da República. Ela também condenou o ajuste fiscal conduzido pelo Ministério da Fazenda. Escolhida para ler um discurso na cerimônia, Maria Emília disse que os conselheiros estão "indignados e preocupados com os níveis alarmantes de pobreza, insegurança alimentar e insustentabilidade ambiental no país". Lula usou boa parte do seu pronunciamento para responder às críticas. "Muita gente gostaria que nós fizéssemos coisas como se nós tivéssemos há 36 anos no governo. São apenas 36 meses". O presidente leu aos conselheiros uma matéria jornalística imaginária, sobre um país fictício mas que, na verdade, representava os resultados do PNAD, divulgados na sexta-feira. Citou a diminuição da concentração de renda em 2004, atingindo o melhor resultado desde 1981; a diminuição, de 27,26% para 25,08% do número de pessoas abaixo da linha de pobreza. Prosseguiu lembrando que aumentou o nível de ocupação no mercado de trabalho, especialmente pelas mulheres; que a geração de empregos com carteira assinada melhorou a contribuição da previdência; a taxa de analfabetismo diminuiu. E provocou: "Esse país imaginário é o Brasil, que vocês ajudaram a produzir a partir das políticas públicas que estão sendo implementadas agora e que, muitas vezes, por não termos informação, não falamos as coisas que nós mesmos ajudamos a fazer". Depois de citar o aumento da liberação de verbas para o Pronaf, Lula convocou os conselheiros a divulgarem os resultados. "Isto tudo demonstra porque os nossos adversários do mundo político ficaram tão surpresos com os dados do PNAD. Mas o dado concreto é que não tem um único dado no PNAD que não seja um dado positivo da conquista do nosso governo e da sociedade brasileira". O presidente voltou a desafiar, especialmente os economistas, a encontrarem outro momento na história do país com crescimento econômico, das exportações, das importações, do emprego, da balança comercial, do superávit de conta corrente e a diminuição dos juros e da inflação. "Então eu penso que isso tem que ser discutido com os companheiros porque senão ficamos discutindo sempre a comida que falta na mesa e não valorizamos aquela que enchemos o bucho", disse. O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, reconheceu a angústia diante da escassez de recursos. Mas garantiu que, a despeito dos problemas, os desafios estão sendo vencidos. "É preciso ter cuidado com a economia, é preciso aperfeiçoar, corrigir rotas. Mas nenhum governo realizou no campo social o que o governo está realizando", comemorou Patrus.