Título: Brasil não deve rever o acordo têxtil com a China
Autor: Sérgio Leo e Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2005, Brasil, p. A5

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indica que não tem intenção de rever o acordo têxtil alinhavado com a China, em Hong Kong, apesar de oposição na indústria brasileira ao tamanho das cotas prometidas aos chineses. "Politicamente, o acordo está acertado", afirmou o ministro Luiz Fernando Furlan. O texto só não foi assinado em Hong Kong porque os chineses pediram tempo para fazer uma avaliação jurídica de uma emenda feita pelo Brasil. Pelo entendimento, Pequim aceita restringir voluntariamente dois terços de suas exportações de têxteis e vestuário para o mercado brasileiro até 2008, para evitar aplicação de salvaguarda. A lista inclui tecidos sintéticos, fios de poliéster texturizados, tecidos de seda, veludos, suéteres e pulôveres, bordados e camisas de malha. Brasília limita a expansão anual da entrada dos produtos entre 8% e 17%. Para o secretário da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mario Mugnaini, uma carta da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), recebida na quinta-feira, seria "favorável ao acordo". Mas ele admite que o setor lista pontos que poderiam ser melhorados. "O acordo está apalavrado e não seria razoável nem possível (voltar atrás) porque vencemos o período negociador", afirmou Mugnaini. Segundo ele, 99% do entendimento está fechado, faltando apenas "um detalhe". É que os chineses queriam que o Brasil se comprometesse a não utilizar uma cláusula especial que vigora até 2013, pela qual pode restringir a entrada de todo tipo de produto chinês. O ministro Furlan disse não. Ofereceu em contrapartida a garantia do Brasil de esgotar todas as vias da negociação bilateral antes de adotar barreiras - idêntico ao que os Estados Unidos fizeram em seu acordo têxtil com os chineses. Para Furlan, o ministro do Comércio da China, Bo Xilai, aceitou o princípio. Inclusive fez como os chineses: gravou a conversa com Bo Xilai. Mais tarde, numa reunião entre assessores brasileiros e chineses, o assessor internacional de Furlan, Mauro Moura, tocou a gravação para insistir no que tinha sido previamente definido. O ministro Bo Xilai pediu um dia para responder se assinava o acordo em Hong Kong. Na sexta-feira à noite, informou que sua equipe precisava de tempo para avaliar as implicações da redação sugerida pelo Brasil. Uma nova reunião técnica está prevista para o próximo mês em Pequim. Como o acordo nâo entrará em vigor em 1º de janeiro, parece certo que as cotas fixadas para 2006 vão ser rediscutidas. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior avalia que o acerto com a China vai além daqueles feitos pela União Européia e Estados Unidos, como o monitoramento pelo lado brasileiro e produtos novos entrando no limite fixado para as exportações chinesas. Para Mugnaini, outros setores que pediram aplicação de salvaguarda contra os chineses, incluindo calçados e armação de óculos, "são fortes candidatos a acordos também''. Assim, os chineses restringem as exportações, em vez de sofrer salvaguarda que limitaria a expansão de suas vendas a 7,5% ao ano. Um técnico do Ministério do Desenvolvimento calcula que todos os produtos chineses alvejados por salvaguarda não representam mais de 2% das importações procedentes da China. O grosso das compras é de eletrônicos.