Título: Aumenta a pressão na UE pelo embargo total à carne brasileira
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 19/12/2005, Agronegócios, p. B12

Crise sanitária Comitê avaliará pedido formal de membro que quer ampliação do bloqueio

A Comissão Européia convocou a embaixadora brasileira em Bruxelas, Maria Celina de Azevedo Rodrigues, para informar que um estado-membro pediu formalmente a suspensão da importação de carne bovina de todo o território brasileiro e que o pedido será examinado pelo Comitê Permanente da Cadeia Alimentar e de Saúde Animal da comissão, em reunião amanhã. Em outubro, a União Européia proibiu as importações de carne bovina de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná após surgimento de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. Este mês, o Ministério da Agricultura confirmou um foco também no Paraná. A Comissão da UE deixou claro para a embaixadora que caso persistam dúvidas após a reunião de hoje com técnicos do Ministério da Agricultura brasileiro em Bruxelas, não terá mais tempo para postergar o recrudescimento das sanções contra o produto brasileiro. Por isso, insistiu que é fundamental a presença, na reunião, de técnicos capazes de fornecer todos os detalhes que a Comissão pedir. A possibilidade de ampliar as sanções ao Brasil foi anunciada pela diretora-geral adjunta do Departamento de Saúde e Proteção do Consumidor da UE, Juana Husu-Kallio, à embaixadora brasileira na semana passada. Husu-Kallio disse que a UE tem "grande preocupação" com a situação sanitária no setor de carne bovina no Brasil. E também com a informação oficial "sempre insuficiente" que recebe do Brasil. Ela não disse qual membro alvejou a carne brasileira, mas a diplomacia brasileira suspeita que seja a Irlanda. A diretora disse à representante brasileira que os esforços feitos pelo Brasil até agora são insuficientes e que a Comissão não terá como impedir a ampliação das sanções se continuar sem conhecer a real situação sanitária nos Estados afetados pela aftosa, e sem as garantias de que o Brasil dispõe dos meios para controlar a doença. A Comissão também indica que denúncias de fraude - como as envolvendo o Friboi, que é acusado de adulterar o SIF para exportar - apenas confirmariam suas dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de identificação, certificação e rastreabilidade de gado no Brasil. A diretora-adjunta disse ainda que, nas várias missões que enviou ao Brasil, a UE não cessou de apontar falhas, mas que numerosas promessas feitas pelas autoridades brasileiras jamais foram cumpridas. O mesmo ocorreria quanto aos procedimentos para controle de resíduos em alimentos. Além disso, a diretora falou de falta de transparência sobre as atuais ocorrências de aftosa, o que "provoca enorme preocupação". E que não há como explicar uma demora de sete semanas para obter do Brasil dados sobre resultados das detecções que são frequentemente anunciadas pela imprensa. Segundo ela, as últimas informações fornecidas por Brasília sobre os focos no Mato Grosso do Sul e Paraná foram insuficientes e persistem dúvidas, sobretudo com relação ao Paraná, sobre os resultados das análises, os métodos usados e as medidas adotadas. A embaixadora brasileira reconheceu que as informações fornecidas não foram "exaustivas", mas insistiu que o Brasil quer conservar a confiança das autoridades da UE e preservar sua participação num mercado de grande importância para o país. Até novembro, a UE importou 213 mil toneladas de carne bovina in natura do Brasil, de um total embarcado pelo país de 1,02 milhão de toneladas.