Título: Área externa traz polêmica à Fiesp
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Brasil, p. A-3

O novo Conselho de Comércio Exterior (Coscex) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) inicia suas atividades esta semana discutindo duas questões polêmicas. Uma interna e outra externa. A interna envolve a posição da entidade paulista sobre o futuro do Mercosul. Já a externa diz respeito a qual será o papel da Fiesp como interlocutor do empresariado junto ao governo nas negociações internacionais. A composição do Coscex não está limitada a São Paulo. A exemplo do que já ocorre na Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), o novo órgão também conta com integrantes de entidades industriais de outros Estados e com representantes do agronegócio. Segundo o presidente do Coscex, Rubens Barbosa, a nova administração da entidade ainda não tem posição definida sobre o futuro do Mercosul. Barbosa, que foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos, esclareceu que essa questão será discutida amanhã na primeira reunião do conselho. Em entrevista ao Valor, o novo diretor do departamento de Comércio Exterior (Derex) da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca, afirmou que está organizando os empresários para propor ao governo federal "um passo atrás" no Mercosul: transformar o bloco de união aduaneira em área de livre comércio. O objetivo seria liberar o Brasil para acordos bilaterais. Empresários do agronegócio e dos setores de calçados e eletrodomésticos manifestaram apoio à proposta. Barbosa nem referendou, nem combateu a proposta de Gianetti, mas fez questão de dizer que o diretor do Derex falou em "caráter pessoal" e que sua opinião será levada ao conselho e discutida em conjunto com outras propostas. "Cada um tem o direito de emitir opiniões pessoais, mas, em nome da Fiesp, fala o conselho", afirmou o ex-embaixador. Segundo fontes da indústria, as declarações de Gianetti causaram desconforto para a Fiesp junto a representantes da indústria da Argentina. O presidente do Coscex frisou também que o novo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, decidiu transformar o conselho na representação máxima da entidade, responsável pelos posicionamentos políticos, e que a diretoria se tornou apenas um órgão técnico. "O conselho vai estabelecer a interlocução, por delegação do presidente da Fiesp, com o governo federal no tocante às negociações comerciais", disse Barbosa, em entrevista coletiva à imprensa. O Coscex , em conjunto com outros conselhos de áreas como economia ou meio ambiente, é coordenado pelo Instituto Roberto Simonsen, organismo de estudos avançados da Fiesp. Barbosa ressaltou que o objetivo da nova administração é "aumentar a parceria com o governo" e que "a Fiesp terá um papel pró-ativo, participará dos debates e pretende se tornar uma referência na discussão das negociações comerciais". Em 24 de novembro, Skaf estará na Argentina para a segunda reunião da Coalizão Empresarial Brasil-Argentina, criada recentemente com o objetivo de dirimir os conflitos entre os dois principais sócios do Mercosul. "Queremos estabelecer uma interface com governo em alto nível", disse. "Sempre foi função da Fiesp representar os empresários na área econômica. A novidade agora é fazer isso no comércio exterior", completou, ressaltando que poderão ser convidados membros do governo para as reuniões. Criada para organizar o empresariado nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a Coalizão Empresarial, coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), é a responsável pela interlocução do governo com o setor empresarial no que se refere às negociações comerciais. Segundo Barbosa, "a Fiesp vai falar em nome do empresariado de São Paulo e não há qualquer contradição". Dos 30 membros do Coscex, contudo, seis representam empresários de outros Estados: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Ceará, Amazonas e Goiás. Também há representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Sociedade Rural Brasileira (SRB). O vice-presidente do conselho é Josué Cristiano Gomes da Silva, presidente da Cia de Tecidos do Norte de Minas (Coteminas), com origem em Minas Gerais. "A idéia de Skaf foi convidar regionalmente algumas federações para acompanhar esse debate", justifica. Além de discutir a evolução do Mercosul, às vésperas da comemoração dos 10 anos da assinatura do Tratado de Ouro Preto em meados de dezembro, o Coscex também pretende debater amanhã as principais negociações nas quais o Brasil está envolvido como a Alca e o acordo com a União Européia. Com relação a Alca, que é de especial interesse para a indústria, Barbosa afirmou que é preciso aguardar a substituição ou não do representante de comércio dos Estados Unidos, Roberto Zoellick.