Título: João Paulo reconhece que falta apoio à reeleição
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Poítica, p. A-8

Os problemas de relacionamento do governo com os partidos da base aliada não foram superados e continua tensa a situação na Câmara. Por outro lado, um foco permanente de atrito na base pode ser finalmente contornado. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, deu demonstrações ontem de que não tem o apoio da base para aprovar a proposta de emenda constitucional (PEC) que permitiria a sua reeleição e a do presidente do Senado, José Sarney. "Tem que ter o mínimo de base que sustente a proposta no plenário", declarou ontem à tarde. Ontem, o único acordo possível na base foi votar a Medida Provisória 197, que cria o Programa de Modernização do Parque Industrial Nacional (Modermaq), que vai ao Senado. O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, vai começar a fazer reuniões setoriais com os líderes e respectivos ministros de partidos da base a partir desta semana. "Se houve falta de atenção com os partidos da base, vamos corrigir. Não pode haver mais pendências", afirmou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), após reunião com Aldo. As pendências são muitas: cargos, conclusão de nomeações, ministérios, mais verbas para ministérios, emendas, emenda da reeleição. Ao fim do dia, no plenário, João Paulo disse que a presidência da Câmara tinha definido os itens que considerava prioritários para a votação até o final do ano, após a apreciação de 28 medidas provisórias que trancarão a pauta até 6 de dezembro. Entre os itens, não estava a PEC da reeleição. Aos deputados, João Paulo garantiu que, pelas mãos dele, a PEC não seria incluída. O ex-petista João Fontes (PSOL-SE) pediu a inclusão da proposta na pauta. O assunto ainda pode ser tratado no colégio de líderes, mas os comentários deixaram claro que não há clima para votar a PEC. O deputado Miro Teixeira (PPS-RJ) indagou ainda se a presidência da Câmara não poderia declarar a "prejudicialidade" da emenda. João Paulo explicou que, regimentalmente, a votação da PEC precisa ser concluída, apesar de ter sido rejeitada na primeira votação. Toda PEC é votada em dois turnos. "Ao ver que essa matéria não está incluída na ordem de prioridades da Câmara, me congratulo com o senhor", disse o líder do PTB, José Múcio (PE), a João Paulo. Como prova de que a crise na base não teve um ponto final, decidiram manter a obstrução ontem (não registrar presença no plenário) o PMDB e o PL. O PTB e o PP radicalizaram e encaminharam votações contra o governo. "Há pendências sim a serem solucionadas na relação do governo com o Congresso. Todos os partidos que estão no governo obstruindo querem votar, mas não podemos colocar o Congresso de quatro aos caprichos do governo; de um governo que assume os compromissos, mas não os honra", disse o líder do PP, Pedro Henry (MT). Para amenizar o clima, o líder do PT, Arlindo Chinaglia (SP), disse que as obstruções são legítimas e que os partidos tinham comunicado ao governo. "Após quatro horas de reunião, os partidos da base não chegaram a um consenso de qual seria a melhor pauta para que essa Casa voltasse a funcionar", admitiu.