Título: Meirelles: juro dependerá do ajuste fiscal
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 30/01/2006, Finanças, p. C3

Aperto monetário Em Davos, presidente do BC rebate críticas e diz que Chile, não China, deve ser modelo para Brasil

A continuação da queda das taxas de juros reais de longo prazo no Brasil está condicionada à manutenção da política fiscal por vários anos, ao controle da inflação e às reformas, disse ao Valor o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em Davos, na Suíça. Reagindo a críticas sobre o desempenho da economia brasileira, Meirelles retrucou que o exemplo para comparar o Brasil não é a China, mas o Chile, que está próximo de zerar sua divida pública, privatizou a previdência social e tem grande abertura comercial. No Fórum Econômico Mundial encerrado ontem em Davos, nas poucas vezes em que se falou do país, os elogios à estabilidade foram acompanhados de ressalvas sobre as altas taxas de juros e o baixo desempenho econômico. O presidente da Nestlé, Peter Brabeck, lamentou que o Brasil não explore seu potencial para crescer mais e atrair investidores. Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, disse que o governo exagerou no combate à inflação. O economista John Williamson, pai do Consenso de Washington, também acha que as taxas de juros reais estão altas demais. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Luiz Fernando Furlan admitiu publicamente que o Brasil, ao crescer pouco, está "perdendo o momento" na cena global para a China e a Índia. O presidente do BC ouviu as críticas, mas destacou ter ouvido também "com clareza" que o caminho para atingir maior crescimento não é voltar à instabilidade, inflação alta e descontrole fiscal. "Objetivos de crescimento econômico são extremamente positivos, mas a função do BC é cumprir a meta de inflação, que vai criar condições para que a economia possa crescer", disse Meirelles. "Taxas de crescimento ficam muito além da decisão e da ação do BC." Os indicadores de alta da inflação divulgados na sexta-feira acenderam o sinal de alerta do mercado sobre eventual retrocesso na politica de redução dos juros. Para Meirelles, uma vez que a economia está estabilizada, o desafio de aumentar a taxa de crescimento precisa respeitar dois pontos. O primeiro, a manutenção da política fiscal por vários anos e a conseqüente redução da relação dívida pública/PIB. O segundo é que a inflação se mantenha consistentemente na meta, de maneira que os prêmios de risco declinem e, com isso, o custo dos empréstimos. O presidente do BC acha que é preciso ainda dar continuidade à reforma da previdência social, à reforma fiscal, à desburocratização, à abertura da economia e contar com um ambiente externo propício. Meirelles reiterou a importância de se olhar o que ele considera modelo certo para comparar o Brasil. "A China tem 1 bilhão de habitantes, grande parte em extrema pobreza, é um pais autoritário e a mão-de-obra é controlada pelo governo", disse. Por isso seu grande potencial de crescimento. O exemplo "bastante adequado" para o Brasil, diz Meirelles, seria o Chile, que fez as reformas estruturais. As despesas públicas estão abaixo de 20% do PIB, a dívida pública está quase zerada e a privatização da previdência social ajudou a financiar investimentos. "Mas sobre a previdência, quem tem de decidir a privatização é a sociedade brasileira", ressalvou. Meirelles concordou com o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato, de que é necessário crescimento com distribuição de renda. "O modelo econômico brasileiro está gerando recorde de empregos e o aumento da receita fiscal está sendo usado para ações sociais, como a bolsa família", afirmou.