Título: Servidora fantasma com o ponto abonado
Autor: Jerônimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2010, Política, p. 6

Entre fevereiro e abril deste ano, estudante teve a frequência liberada com o aval do senador Efraim Morais. Irmãs prestaram depoimento na Polícia Legislativa

A funcionária fantasma Kelly Janaína Nascimento Silva, 32 anos, teve o ponto abonado pelo senador Efraim Morais (DEM-PB), onde estava lotada, apesar de afirmar que nunca apareceu no Senado para trabalhar. Na lista de funcionários comissionados do gabinete, o nome de Kelly aparece destacado como servidor em regime especial de freqüência ou seja, é o nome utilizado pela Casa para designar quem não precisa comprovar presença. Kelly e a irmã Kelriany Nascimento da Silva, 32 anos, registraram ocorrência na 13ª DP (Sobradinho) denunciando que foram contratadas pelo Senado sem conhecimento (leia Entenda o caso). A assessoria de comunicação do Senado explica que obrigatoriamente o senador é o responsável pelo abono do ponto da funcionária. A estudante é registrada na Casa desde 6 de abril de 2009 e o ponto eletrônico foi tornado obrigatório para os funcionários em 1º de fevereiro de 2010. Com isso, nos meses de fevereiro e março, o senador abonou o ponto de Kelly. Boletins administrativos de pessoal do Senado mostram que Efraim delegou a responsabilidade pela liberação de ponto dos servidores ao subchefe Marcos Vinícius Souto em abril deste ano. De acordo com o Senado, o pedido de liberação de ponto é comum em cargos como chefe de gabinete, assessores de imprensa e motoristas porque as funções têm caráter itinerante. No caso de Efraim, dos 50 funcionários lotados no gabinete apenas sete têm frequência registrada. A suposta advogada Mônica da Conceição Bicalho, funcionária exonerada que teria intermediado o desvio dos salários de Kelly e de Kelriany, também tinha o ponto abonado. Os servidores Ricardo Luiz da Conceição Bicalho e Nélia da Conceição Bicalho, irmão e mãe de Mônica, segundo confirmação da assessoria do gabinete de Efraim, também não comprovavam frequência. A assessoria do senador não soube explicar a função dos parentes da suposta advogada no gabinete e informou apenas que realizavam atividades externas. Enquanto a média de funcionários nos gabinetes e escritórios de apoio no Senado é de 30 servidores, divididos entre Brasília e os estados de origem, o senador Efraim mantêm 68 pessoas à sua disposição. Desses, 43 não prestam contas de sua atuação à Diretoria de Recursos Humanos da Casa e têm o ponto abonado pelo senador. A assessoria do parlamentar argumenta que os servidores são distribuídos em núcleos regionais na Paraíba. Como o senador tem cota de R$ 80 mil para a contratação de comissionados, de acordo com o gabinete de Efraim, a maior parte dos funcionários recebe salário médio de R$ 1 mil. Sobrenomes ilustres constam na folha de pagamento dos comissionados de Efraim. Da família do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), estão lotados Lúcio Paredes Cunha Lima e Ronaldo Cunha Lima Filho. De acordo com a assessoria, eles trabalham no núcleo de João Pessoa prestando serviço no escritório de apoio de Efraim. Ex-vereador e estudantes de medicina parentes de políticos da Paraíba também constam na listagem dos funcionários com ponto abonado. Para abrigar o maior número de funcionários, o senador abre mão de manobras, como nomear o assessor de imprensa como motorista, segundo informação presente no relatório do departamento de recursos humanos do Senado. A assessoria de Efraim informou que o senador abonou todos os pontos de uma vez só de todos os funcionários que realizam trabalhos externos e que a ex-servidora Mônica é a responsável pela contratação de Kelly e Kelriany.

Depoimentos A Polícia Legislativa iniciou a investigação das denúncias contra Efraim ouvindo ontem as irmãs Kelly e Kelriany. O diretor da polícia da Casa, Pedro Ricardo Araújo, afirmou que ainda não tem data para o depoimento de Mônica e que o departamento não pode investigar Efraim, apenas a corregedoria da Casa. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), não quis ouvir os depoimento e afirmou que vai esperar os resultados da Polícia Legislativa para abrir processo contra Efraim. O senador informou que Mônica pode responder por crime de estelionato. Ela com certeza será convocada, temos que apurar o estelionato, em tese, que foi aplicado, disse Tuma. Além de terem os salários desviados, movimentação na conta das duas estudantes mostra contratação de empréstimo em nome das funcionárias fantasmas. O advogado das estudantes, Geraldo Faustino, afirma que a assinatura na abertura da conta salário não é delas. Vamos ter acesso ao cartão da conta e assinatura de abertura, concluiu.