Título: Para Aécio, disputa pode ser decidida no primeiro turno
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Política, p. A5

O governador de Minas, Aécio Neves, disse ontem, em Belo Horizonte, que a sucessão presidencial deste ano poderá ser uma disputa com poucos candidatos, decidida em um só turno, caso seja mantida a verticalização. "Há uma enorme expectativa de que o candidato Geraldo Alckmin possa ser a antítese da ineficiência que hoje é a marca, ao meu ver, maior do governo Lula." Aécio disse que considera legítimo o momento de angústia que o prefeito José Serra está vivendo, depois de ver um sonho adiado com a indicação de Alckmin para disputar a Presidência pelo PSDB. "Querer que o prefeito Serra tenha a mesma satisfação que teve o candidato escolhido é falsear a verdade", declarou ontem, em Belo Horizonte. Aécio reiterou, entretanto, que o "espírito público e a racionalidade" de Serra prevalecerão em nome do objetivo comum de vencer as eleições e substituir o atual governo. "Ele (Serra) me dizia ontem à noite, estará engajado, estará participando", contou o mineiro, que esteve à frente das negociações entre o prefeito paulista e Alckmin, juntamente com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente da legenda, Tasso Jereissati. Segundo Aécio, o grupo temia pelo resultado de uma disputa interna, em qualquer fórum que fosse. "A opção foi aquela que nos pareceu que melhor garantiria a unidade", relatou. O governador elogiou o desprendimento de Serra, comparando a desistência do prefeito ao gesto que ele próprio teria feito há três meses, ao tirar seu nome das especulações para não acirrar disputas internas e facilitar o consenso em torno de um único candidato. "Conversei longamente com o prefeito Serra durante esses dias." Aécio negou que a indicação de Alckmin tenha sido condicionada a um apoio ao fim da reeleição, o que abriria espaço para sua própria candidatura ou de Serra em 2010. "No mínimo, tenho sensatez", declarou. "É impossível hoje celebrar um acordo para 2010, com todas as circunstâncias que nós viveremos daqui até lá." Segundo ele, o que existe hoje é um convencimento de grande parte das lideranças tucanas de que a reeleição não tem sido uma experiência positiva para o país. "Não conheço um caso sequer de um segundo mandato que tenha sido mais proveitoso, que tenha sido mais ativo do que um primeiro mandato", disse. Aécio acredita que o governo Lula é o "maior atestado" de que a reeleição precisa ser revista no país. Na sua análise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva priorizou alianças partidárias que poderiam lhe dar sustentação para um segundo mandato em detrimento da qualidade da primeira gestão. O governador informou que ainda não está certo de que deve disputar a reeleição em Minas, apesar do cenário favorável, com apoio de vários partidos e da população. "Não tenho ainda a convicção de que uma recandidatura minha ao governo do Estado, por mais apoio que eu venha recebendo, seja o melhor caminho para Minas e para mim mesmo." Aécio estuda ainda duas outras possibilidades, segundo declarou ontem. A de disputar uma vaga no Senado - como pretendia fazer em 2002, antes de decidir-se pelo governo de Minas - ou a de encerrar seu mandato e ficar por um período fora da política, se "preparando, conhecendo mais os problemas do Brasil e do mundo". Tomará sua decisão no momento certo, avisou.