Título: Nanicos fazem planos no país das maravilhas
Autor: Cipriani, Juliana; Souto, Isabella
Fonte: Correio Braziliense, 30/05/2010, Política, p. 6/7

Programas de governo dos candidatos dos partidos menores vão do cartão que paga tudo nos hospitais aos aerotrens

Era uma vez um país onde todos conviviam sem violência, já que os criminosos haviam sido exilados para ilhas desertas; além disso, ninguém passava fome ou frio, pois todas as riquezas do país eram distribuídas de forma igualitária. E mais: para resolver os problemas de saúde, bastava apresentar um cartão, e tudo estaria pago como num passe de mágica. Problemas de trânsito? Nem pensar. Trens aéreos se encarregavam de levar as pessoas a todos os destinos rapidamente. Nesse país, tudo parece um conto de fadas. Mas é o Brasil sonhado nos programas de governo de oito pré-candidatos à Presidência da República. Longe dos holofotes, os políticos considerados nanicos se esforçam para mostrar ao eleitor por que são a melhor opção nas urnas em outubro. O presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, Plínio de Arruda Sampaio (Psol), diz que, se eleito, vai desapropriar todas as terras com mais de 500 hectares, sejam produtivas ou não, para assentar 6 milhões de famílias de trabalhadores em quatro anos. Se os fazendeiros ficaram de cabelo em pé com a notícia, os credores da dívida interna e externa do país não devem ter uma sensação muito diferente. Sampaio propõe suspender o pagamento da dívida pública. Quer ainda reduzir a jornada de trabalho e aumentar o emprego. A médio prazo, transformar o Brasil em país socialista. Outros que defendem o regime socialista para o país são o metalúrgico Zé Maria (PSTU) e o advogado e sindicalista Ivan Pinheiro (PCB), que querem estatizar todas as empresas privatizadas nos últimos anos. Para Zé Maria, as companhias que exploram recursos naturais no país deveriam ser estatais, a terra, nacionalizada e o agronegócio, expropriado. Zé Maria também quer um salário mínimo de cerca de R$ 2 mil, o suficiente para atender o que prevê a Constituição. O jornalista e professor de marketing político Levy Fidelix (PRTB) pretende taxar os bancos e reduzir os juros a, no máximo, um terço a mais que a inflação. Também quer criar um banco para financiar jovens a montarem seus negócios como autônomos e isentar 10 alimentos da cesta básica de impostos. Na infraestrutura, é dele a proposta dos aerotrens para desafogar o trânsito. Conhecido de outras eleições, José Maria Eymael (PSDC) quer que todos os cargos de gestão do serviço público passem a ser privativos de funcionários de carreira. Também quer a simplificação dos impostos com o alargamento da base de tributação. As seguradoras de saúde devem torcer pela derrota de Américo de Souza (PSL) caso queiram manter os milhões de usuários de planos privados. É que o candidato promete uma revolução no setor ao transformar os hospitais em fundações privadas administradas por médicos e enfermeiros e fiscalizadas pelo Ministério Público. E o que é melhor: os brasileiros que ganharem até cinco salários mínimos (R$ 2.550) não vão tirar um centavo do bolso. Basta apresentar um cartão eletrônico disponibilizado pelo governo federal que o pagamento será feito online, na conta da União, claro. ¿O sistema vai liberar o dinheiro para o hospital, automaticamente¿, planeja Américo.