Título: No Brasil, Uruguai ficou marcado por escândalo
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2009, Internacional, p. A19

O Uruguai ficou famoso em todo o Brasil como paraíso fiscal no início dos anos 90 com a chamada Operação Uruguai, que contribuiu para o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (1991-1992).

Em julho de 1992, o motorista do então presidente, Eriberto França, deu uma entrevista à revista "Isto É" confirmando que o ex-tesoureiro do partido de Collor, o falecido Paulo César Farias (PC), pagava despesas pessoais do presidente com recursos de campanha. Pressionado, Collor foi à TV e afirmou que usava dinheiro da sobra de campanha administrado pelo secretário particular Cláudio Vieira. Convocado por uma CPI do Congresso, Vieira contou que converteu as sobras de campanha (cerca de US$ 3,5 milhões) em barras de ouro, por meio do doleiro Najun Turner. Com o ouro, tomou um empréstimo no mesmo valor junto à agência de factoring Alfa Trading, de Montevidéu. Os fiadores da operação haviam sido o empresário da construção civil Paulo Octavio e o ex-senador Luiz Estevão, ambos de Brasília.

Era tudo uma farsa. Na verdade a Operação Uruguai havia sido bolada nos escritórios do também falecido Alcides dos Santos Diniz, irmão do empresário acionista do grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz, para esconder o financiamento dos gastos presidenciais por empreiteiras. A verdade foi descoberta através de outro depoimento na CPI, o da secretária de Diniz, Sandra Fernandes de Oliveira, que declarou ter presenciado uma reunião nos escritórios do patrão, no bairro dos Jardins em São Paulo, onde tudo foi combinado. O depoimento da secretária, somado a perícia policial comprovando que o contrato apresentado por Vieira com a tal Alfa Trading tinha autenticações cartoriais falsificadas, desmoralizaram a história da Operação Uruguai.

No entanto, a operação em si era comum na época. Como o sistema financeiro no Uruguai não exigia identificação, brasileiros abriam contas no país vizinho através de laranjas e depositavam dólares obtidos de maneira ilegal (tráfico, corrupção). Com a conta bancária, "lavavam" o dinheiro e levantavam empréstimos junto a estas instituições com garantia dos próprios depósitos. O dinheiro "limpo" do empréstimo podia então ser repatriado ao Brasil. Já há alguns anos a lavagem de dinheiro tem sido bloqueada por novas regras implementadas em todo mundo e o próprio Uruguai mudou sua legislação em 2007, estabelecendo controles mais rígidos para a entrada de capital estrangeiro. (JR)