Título: PV sai em busca de descontentes para palanque de Marina
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 21/08/2009, Política, p. A13

O PV convidará o senador Flávio Arns (PT-PR) a filiar-se ao partido, a exemplo da proposta feita à senadora Marina Silva (AC). Um dia depois de o parlamentar petista anunciar que se desligará do PT, dirigentes do Partido Verde o procuraram e marcaram uma reunião para a próxima semana para discutir a troca de legenda.

Flávio Arns disse ter discordado da defesa feita pelo PT do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no Conselho de Ética e por isso decidiu sair do partido. O senador petista, cujo mandato termina no próximo ano, negou ter tomado a decisão por conta de dificuldades eleitorais em seu Estado. No Paraná, o PT pretende dar à presidente do diretório estadual, Gleise Hoffmann, uma vaga para disputar o Senado. A outra deve ir para o aliado do partido: ou o PMDB, com o governador Roberto Requião, ou o PP, com o deputado Ricardo Barros.

"O que definiu minha saída foi a decisão do PT no conselho. Senão estaria ainda no partido", disse. "O problema não é o Sarney. Somos nós. Nossa atitude foi errada, em desacordo com princípios éticos." Arns recorrerá à Justiça Eleitoral para não perder o mandato.

O PV apostará na aproximação com o petista. "É de interesse do PV a vinda dele, a bandeira da ética que ele levanta. Isso se ajusta às nossas ideias de refundação do PV, que Marina trará", afirmou o deputado Edson Duarte (BA), integrante da Executiva do partido.

A filiação de Marina Silva ao PV, analisam dirigentes do partido, aumentará a adesão ao partido não só de petistas, mas também de tucanos. "Marina atinge o eleitorado com mais escolaridade, que é o público do PSDB", comentou o deputado Sarney Filho (MA). O comando do PV reuniu-se ontem em Brasília e deve discutir hoje novamente os convites que fará a partidos e parlamentares. "Mas não estamos aliciando ambientalistas do PT nem de outros partidos", comentou o vereador Alfredo Sirkis, vice-presidente do partido. "Não tomaremos a iniciativa, mas aceitaremos quem nos procurar", comentou.

A negociação sobre aliança está mais avançada do que os convites feitos a deputados e senadores, mas mesmo assim o PV só conversou com legendas pequenas, como P-Sol, PSC e PHS.

O que ficou estabelecido com a futura filiação de Marina ao PV é que ela e um grupo de nove pessoas próximas à senadora farão parte da Executiva do partido. Entre os integrantes do grupo dos amigos de Marina estão o ex-presidente do Ibama Basilei Margarido, o ex-Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, o cientista político Carlos Antonio Novaes, o ex-deputado do PT Luciano Zica e o dirigente do Greenpeace, Roberto Kichimani. Esse grupo, junto com os atuais integrantes da Executiva do partido, fará as mudanças programáticas e trabalhará no programa de governo de Marina, caso ela confirme a candidatura.

O deputado Fernando Gabeira disse à Agência Brasil que o PV tem dois grandes desafios pela frente: atualizar as propostas de governo adequando os programas à nova realidade imposta pelos efeitos do aquecimento global e aumentar a influência do PV com a participação mais efetiva de cientistas e intelectuais. Gabeira disse ainda que a reestruturação do PV deve evitar o uso da legenda para interesses específicos dos candidatos, nos estados e municípios, em detrimento dos compromissos partidários. A expectativa do PV, segundo Fernando Gabeira, é que o partido inicie 2010 já com novas propostas consolidadas.

O PV convidou outras três pessoas para construir com Marina o programa para a Presidência: Marcos Sorrentino, que trabalhou como diretor do Programa Nacional de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente quando Marina foi titular da pasta; José Eli da Veiga, coordenador do Núcleo de Economia Socioambiental da USP; e o escritor Augusto Cury , psiquiatra e escritor..

Marina deverá se filiar ao PV no dia 30 e o partido programou uma festa em São Paulo para a senadora. O primeiro ato de campanha previsto pelos dirigentes do PV está marcado para o dia 27 de setembro, no Rio de Janeiro. O mote será a campanha Brasil no Clima, para conscientizar a sociedade da necessidade de o governo brasileiro assumir "metas audazes" na Conferência de Copenhague. Na ocasião, lideranças mundiais rediscutirão as medidas adotadas para reduzir a emissão de gases poluentes causadores do aquecimento global.