Título: Empresas emitiram 85,2 milhões de toneladas de gás-estufa em 2008
Autor: Máximo , Luciano
Fonte: Valor Econômico, 09/10/2009, Brasil, p. A2

O primeiro levantamento feito no país sobre emissões de gases de efeito estufa (GEE) por 27 empresas brasileiras aponta que 85,2 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) foram despejadas na atmosfera em 2008. O dado faz parte de um programa no qual companhias de portes diversos aceitaram abrir seus indicadores de poluição para um projeto do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (GVces).

Das empresas que participaram da primeira rodada de inventários, a Petrobras respondeu por 51 milhões de toneladas de CO2 equivalente lançadas na atmosfera em 2008, concentrando 59% da totalidade das emissões de GEE verificadas nos relatórios. Votorantim e Alcoa aparecem em seguida, com 19,4 milhões de toneladas de CO2e e 2,5 milhões de toneladas de CO2e, respectivamente. Gás carbônico equivalente é uma medida internacional de emissões que agrega os sete gases-estufa, inclusive o principal deles, o CO2.

A assessoria de imprensa da Petrobras informou ontem que as principais fontes de emissão de GEE são provenientes da atividade-fim da empresa: produção e refino de petróleo nas 15 refinarias e 112 plataformas de extração, além das 18 usinas termelétricas e três unidades de produção de fertilizantes da petrolífera. Empresas de outros setores (financeiro, comercial, mineração, cosmético), com índices muito inferiores de emissão, registraram atividades secundárias como as maiores fontes de poluição, como o uso de transportes e o consumo de energia elétrica.

O biólogo Roberto Strumpf, coordenador do GHG Protocol (nome do projeto da FGV), lembra que a perfuração de poços também agride a atmosfera. "Não é só petróleo líquido, uma quantidade enorme de outros gases-estufa, como o CH4 [metano] que é muito mais poluente que o CO2, é liberada nesse processo", explica. Segundo Strumpf, dificilmente a Petrobras conseguirá reduzir suas taxas de emissões de GEE com a perspectiva de investimentos e nova carga de exploração da camada do pré-sal. "Será preciso preciso investir fortemente em tecnologia e eficiência energética para a empresa continuar crescendo e, ao mesmo tempo, descolar a curva do aumento das emissões desse crescimento orgânico. É isso que se prega na economia de baixo carbono."

Mesmo com o pré-sal, a Petrobras informou no próprio inventário das emissões empresariais que pretende reduzir as emissões em até 4,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente até 2013. Entre as medidas, está o "investimento agressivo" em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, energias renováveis e captura, sequestro, transporte, armazenamento geológico e monitoramento de CO2, em parceria com universidades e institutos de pesquisa.

De acordo com o GVces, as emissões das companhias no ano passado equivalem a 3,8% do total de gases-estufa emitidos pelo Brasil em 2005 (2,2 bilhões de toneladas de CO2 equivalente), incluindo a poluição causada por desmatamento. Quando a devastação de matas e florestas não é considerada, a presença dos GEE das empresas em relação ao total do país sobe para 8,5% - ambientalistas acusam o governo federal de não liberar dados para comparação mais recente porque o Itamaraty quer usá-los como moeda de troca nas negociações na cúpula sobre mudanças climáticas de Copenhague, em dezembro.

Sem revelar as estratégias do governo, a secretária de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Kahn Ribeiro, disse que apresentará os dados e as metas de emissões que o país vai levar para a Dinamarca ao ministro Carlos Minc neste fim de semana. Ela revelou que, na próxima terça-feira, Minc apresentará a proposta final para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros ministros. O projeto terá "desvios das emissões atuais e ações arrojadas para se chegar a uma economia de baixo carbono", com a promessa de redução da liberação de CO2 a partir da reformulação da utilização dos combustíveis e de menos desmatamento - hoje responsável por cerca de 20% das emissões de GEE no país. "O Brasil vai exigir contrapartidas financeiras dos países desenvolvidos", completou Suzana.

Pedro Sirgado, diretor executivo do Instituto EDP, que monitora as práticas ambientais da empresa de energia portuguesa, disse que investirá cerca de R$ 5 milhões em 2009 para reduzir as emissões de GEE. De acordo com o inventário do GVces, a companhia liberou 15,3 mil toneladas de CO2 equivalente no ano passado, por causa do consumo de combustível da frota particular da companhia e viagens aéreas nacionais e internacionais de seus executivos. Com índice de poluição na ordem de 129,3 mil toneladas de CO2 equivalente, o Itaú Unibanco prevê remodelar a logística de transporte do grupo e investir em sistemas de informática que consumam menos energia elétrica.