Título: Ações ajudam Eletros a recuperar perda de 2008
Autor: Rocha , Janes
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2010, Finanças, p. C3

Com o bom desempenho do mercado de ações em 2009, a Fundação Eletrobrás de Seguridade Social (Eletros) recuperou boa parte das perdas registradas em 2008, reduzindo pela metade o déficit atuarial, de R$ 108 milhões para R$ 51 milhões. Fundo de pensão dos empregados da Eletrobrás, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e do Centro de Pesquisa Energética (Cepel), a Eletros encerrou o ano com aproximadamente R$ 2,5 bilhões em patrimônio total - em novembro, último dado disponível.

Porém, as análises macroeconômicas que dão suporte às decisões de investimentos do fundo apontam para a necessidade de ampliar as apostas na renda variável para garantir a aposentadoria de seus 2.626 participantes, dos quais 1.743 já aposentados e pensionistas. Além destes, o instituto acaba de incorporar, em dezembro, os mais de 250 funcionários da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que presta serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético.

"Tanto a renda fixa quanto a renda variável tiveram um rendimento estupendo", afirma Sylvio Murad, diretor financeiro da Eletros, satisfeito com o resultado do ano que passou, mas já preocupado com a dificuldade que vem pela frente.

"Esperamos um ano mais apertado em 2010", disse Murad, referindo-se à cada vez mais difícil tarefa de cumprir as metas atuariais dos planos administrados diante da redução da rentabilidade dos títulos públicos e dos ativos de renda fixa em geral, pela queda das taxas de juros reais.

A gestão da Eletros tem sido a mais conservadora possível. Os cinco fundos geridos pela fundação (um de benefícios definidos e os demais de contribuições definidas) têm a maior parte de seu patrimônio aplicada em ativos de renda fixa. O maior deles, o de benefício definido da Eletrobrás, com quase R$ 1,6 bilhão em patrimônio, tem 88% aplicados em renda fixa, basicamente títulos públicos de longo prazo. A participação da renda fixa nos demais está na faixa de 70% a 80%. A rentabilidade do patrimônio ficou em 14,9% no ano até novembro.

A postura ultraconservadora no caso do fundo de benefício definido se justifica pelo perfil dos participantes, em que o número de inativos (1.627) é o dobro de ativos (447), explica Murad. Mas também foi orientada para a solução do déficit atuarial que havia superado os R$ 100 milhões e tinha que ser revertido. "Adotamos um posicionamento no fim de 2008 de aproveitar o soluço do mercado em que as taxas de juros aumentaram e, naquele momento, nos posicionamos em títulos de longo prazo".

Essa tática se estendeu por 2009 que, por fim, foi um ano melhor que o esperado tanto pelo desempenho dos ativos de renda fixa quanto dos de renda variável. "Hoje o Ibovespa ultrapassou os 70 mil pontos. Ninguém imaginava, no fim de 2008, marcar esse nível de pontos e isso explicou nossa alocação conservadora na carteira de renda variável", afirma Murad. Para 2010 Murad diz que não pretende mudar muito a estratégia mesmo podendo ampliar os investimentos em ações e projetos de infraestrutura, possibilidade aberta pela Resolução 3.792 do Conselho Monetário Nacional e regulamentado pela Secretaria de Previdência Complementar.

"Nós olhamos muito o índice de referência IBX que tem os setores de petróleo e mineração como principais em sua composição", explica. No entanto, diz, a gestão dos investimentos em ações não deve ressaltar tanto estes segmentos e sim os que a área de análise do fundo vê como de melhores perspectivas de rentabilidade: varejo, alimentos, construção e todos os que estão mais relacionados com o "desempenho da economia doméstica". Quanto aos projetos de infraestrutura, que estão sendo analisados atentamente pelos fundos de pensão de maior porte, o diretor financeiro da Eletros disse que vê com "cautela". "Um trem bala, por exemplo, necessita de um esforço adicional de análise para o nosso tamanho."