Título: Brasil reagirá à alta do real
Autor: Capriolli, Gabriel; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 22/06/2010, Economia, p. 18

Mantega diz que país tem como evitar a entrada maciça de capital estrangeiro e avalia como pequena a alteração no câmbio chinês

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo tem instrumentos para evitar um ingresso maciço de dólares, em caso de recuperação da Europa. ¿Quando acalmar a questão europeia, e parece que está acalmando, haverá pressão de entrada de recursos no Brasil. Então, nós poderemos ter uma valorização da nossa moeda. Claro, nós vamos procurar impedir¿, disse.

Mantega considerou positiva a possibilidade de a China flexibilizar o câmbio e permitir a valorização da moeda, mas reclamou do ritmo do processo. ¿Será positivo para o equilíbrio cambial mundial, mas eu ouvi projeções de que seria uma valorização de 3% em um ano e 15% em três anos. É pouco para ter efeito no Brasil, mas é um bom começo¿, avaliou.

O ministro lembrou que, durante a crise, a China permitiu a valorização de sua moeda em cerca de 15%, medida importante, mas insuficiente, já que continua com grande defasagem em relação ao dólar, que aumenta a competitividade das exportações, e prejudica países com câmbio flutuante, como o Brasil.

Repercussão O otimismo com as medidas tomadas pelo Banco Popular da China no fim de semana durou pouco. No início do dia, o mercado se animou com o anúncio de reformulação na política cambial chinesa e com o fim da paridade de 6,83 iuans(1) por dólar, que vigora há 23 meses, desde a crise de 2008. Por volta das 11h, a Bolsa de Valores de São Paulo chegou ao pico de 65.516 pontos, com ganhos de 1,67%, mas fechou com leve alta de 0,61%, nos 64.829 pontos. Os investidores analisaram o impacto da nova banda de oscilação de apenas 0,5% e descobriram que muito pouco será mudado na economia que mais cresce no mundo.

¿Acho que a China deu uma grande cartada política. Como estamos a menos de uma semana do G-20 (encontro dos 20 principais países), fez uma pequena flexibilização cambial só para sentar-se à mesa de negociação, manter as vantagens que já tem e ainda pedir mais¿, indicou o economista Robson Gonçalves, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Política ou não, a atitude provocou significativas altas nas bolsas de valores mundiais. Na Ásia, a bolsa chinesa subiu 2,90%. A japonesa teve valorização 2,42%. E a de Hong Kong teve alta de 3,08%. As da Europa seguiram a mesma tendência. A bolsa francesa fechou com ganhos de 1,33%. A alemã progrediu 1,22%. E a inglesa teve alta de 0,92%.

O mercado de câmbio também sofreu grandes oscilações. Depois de cair a R$ 1,75, o dólar se recuperou e fechou em alta de 0,11%, cotado a R$ 1,774. A tendência de queda da moeda norte-americana pode se manter, segundo analistas, pelo previsível aumento do fluxo de dólar, em função da oferta de ações do Banco do Brasil, da capitalização da Petrobras e da esperada recuperação econômica da Europa.

1 - Expectativa na Casa Branca Maiores críticos da política de câmbio fixo praticada pela China, os Estados Unidos decidiram ontem emitir um sinal de confiança ao anúncio do governo chinês de adotar um regime mais flexível para as cotações do iuan. A Casa Branca se disse ¿encorajada¿ com a medida e ressaltou que a sua ¿implementação¿ será chave. ¿Nós, obviamente, estamos encorajados (com a decisão da China)¿, afirmou o porta-voz do governo dos EUA, Bill Burton.

Regulação mais dura

Paris ¿ França e Alemanha renovaram os pedidos por uma regulação mais dura no setor financeiro global, antes de um encontro do G-20 no Canadá no fim desta semana. ¿Desde nosso primeiro encontro em Washington em 2008, temos feito sólidos progressos na implementação da agenda da reforma regulatória financeira¿, disseram o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, em carta conjunta para o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper. ¿Porém, nosso trabalho ainda não acabou.¿

Sarkozy e Merkel pediram um acordo internacional para introduzir uma tributação sobre instituições financeiras e um acordo internacional sobre uma taxa para transação financeira. Eles também pediram uma regulação mais rígida para o mercado de derivativos.