Título: Ajuda à Grécia pode chegar a 30 bilhões de euros
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Fonte: Valor Econômico, 01/03/2010, Internacional, p. A13

Um plano encabeçado pela Alemanha e a França para socorrer a Grécia com até ¿ 30 bilhões (US$ 41 bilhões) começou a tomar forma, mas os governos grego e alemão ainda não tinham chegado ontem a um acordo sobre o cronograma e os termos do socorro.

As autoridades gregas disseram que esperam fechar um acordo até sexta-feira, quando o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, se reúne em Berlim com a chanceler alemã Angela Merkel, mas uma autoridade do alto escalão do governo alemão insistiu que o socorro não é iminente.

O pacote que está sendo estudado, segundo autoridades gregas e outras pessoas a par da questão, envolveria a venda de títulos soberanos para instituições francesas e alemãs, provavelmente bancos estatais, bem como investidores de renda fixa. A operação, que deve oscilar na faixa de ¿ 20 bilhões a 30 bilhões, provavelmente seria dividida igualmente entre esses bancos e grandes investidores em títulos de dívida, disseram as pessoas.

"Com certeza esse plano não existe", disse Ulrich Willhelm, porta-voz da chanceler alemã,.

Os relatos conflitantes espelham a relutância da Alemanha em ceder à Grécia antes que Atenas mostre que realmente progrediu na redução de seu déficit, que deve chegar a quase 13% do PIB este ano. A Alemanha, o motor econômico do grupo de 16 países que tem o euro como moeda, teria de arcar com a maior parte do custo de qualquer pacote de socorro. As pesquisas de opinião mostram que a grande maioria dos alemães é contra o socorro à Grécia. E os gregos, que têm de refinanciar mais de ¿ 50 bilhões em dívidas nos próximos meses, em meio às dúvidas crescentes sobre sua solvência, estão ansiosos para garantir um pacote de ajuda o mais rápido possível.

A ministra francesa da Fazenda, Christine Lagarde, confirmou que têm ocorrido negociações sobre as opções de socorro à Grécia, elas podem envolver "parceiros privados ou públicos - ou ambos".

"Não tenho dúvidas de que a Grécia vai conseguir se refinanciar com os meios que estamos explorando no momento", disse Lagarde à rádio francesa Europe 1 ontem de manhã.

Uma autoridade próxima do governo francês acrescentou que a França só vai endossar um socorro que também tenha o apoio da Alemanha.

Numa entrevista ontem a um canal alemão de TV, Merkel sugeriu que a Grécia precisa cortar muito mais gastos do que já eliminou. "No momento, a melhor maneira de ajudar é deixar claro que a Grécia tem de fazer seu dever de casa." A Grécia "precisa fazer agora o que é importante para o país, mas também para todos nós."

Esta semana, Atenas deve dar mais detalhes sobre seu programa de austeridade e provavelmente vai anunciar mais 4 bilhões de euros em cortes de gastos e aumentos de impostos, após a visita de hoje do comissário de Assuntos Monetárias da União Europeia, Olli Rehn, disseram pessoas a par da situação. Autoridades da Alemanha e da França dizem que não haverá nenhum resgate até que a Grécia atenda às exigências feitas pelo bloco para sanar sua situação fiscal.

Embora autoridades da França e da Alemanha possam pedir mais tempo para estudar a questão, e já tenham dado a Atenas prazo até 16 de março para mostrar progresso em seu programa de austeridade fiscal, cresce a percepção de que os mercados financeiros querem logo uma solução para o problema. Os mercados de dívida, em particular, têm estado voláteis devido às incertezas sobre os rumos da Grécia e sobre se a crise pode se espalhar para outros países vulneráveis na periferia da zona do euro, como Espanha e Portugal.

O uso de instituições financeiras estatais pode permitir que os governos da Alemanha e da França driblem as regulamentações que proíbem governos da UE de comprar dívida de outros países, disse uma pessoa a par da situação. Na Alemanha, o estatal KfW pode ser um dos bancos usados para comprar os títulos gregos.

Embora o investimento na Grécia seria de tamanho considerável, autoridades alemãs acreditam que o KfW pode lucrar com o acordo se o pacote inteiro de socorro funcionar como planejado.

A emissão de títulos da Grécia pode coincidir com os esforços do país e da UE para acertar qual será a estrutura do esforço grego para cortar os déficits orçamentários. Até sexta-feira os dois lados estavam em desacordo sobre se um plano para cortar despesas e aumentar os impostos reduziria mesmo o déficit orçamentário da Grécia para a meta de 9% ou menos do PIB ainda este ano.

Uma autoridade do alto escalão da Grécia disse que o país está trabalhando para propor mais impostos para atender à meta da UE. Mas pode não ser suficiente para convencer o governo alemão a apoiar o plano. Os obstáculos políticos severos a um auxílio alemão à Grécia, como a oposição total de muitos políticos da coalizão de governo, levam a crer que o socorro pode ser uma medida de último caso, dizem integrantes do governo. (Colaboraram Alessandra Galloni e Alkman Granitsas)