Título: Argentina exporta energia ao Brasil
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2010, Especial, p. A14

Desde quarta-feira à tarde, o Brasil começou a importar 500 megawatts (MW) médios de energia da Argentina. O curioso é que ambos os países tiveram, nos últimos dias, recordes de consumo. Na semana passada, com a onda de calor em Buenos Aires e no interior argentino, a demanda encostou em 20 mil MW no país vizinho, obrigando as autoridades a cortar o fornecimento, por algumas horas, em províncias como Córdoba.

O governo argentino previa manter o envio apenas por algumas horas ou dias, aliviando um pouco a operação do Brasil, que precisou acionar suas usinas térmicas (principalmente a gás natural) para atender a demanda recorde. A Secretaria de Energia informou, em comunicado, que o país "contará com um crédito de energia que será devolvido quando a Argentina solicitar".

No Brasil, o consumo de energia registrou, ontem, o quarto recorde consecutivo. Por volta das 15 horas houve pico de 70.600 megawatts (MW), de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O ONS atribui a pressão da demanda ao forte calor. Em média, as máximas estão 30 C acima do que era verificado neste período no ano passado. Outro fator que vem contribuindo é a recuperação do segmento industrial, depois de um período de baixo consumo em função da crise.

Na quarta-feira o pico havia sido de 70.421 MW, com registro de recordes também nos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste. A média, ao longo do dia, foi de 61.726 MW. Desse total, 80,21% foram gerados por usinas hidrelétricas nacionais. Itaipu, que é binacional, foi responsável por outros 12,22%. As termelétricas despacharam 2.542 MW médios, correspondentes a 4,12% do total. As usinas nucleares contribuíram com produção de 1.956 MW, correspondentes a 3,17% de tudo o que foi gerado.

Diante de limitações operacionais nas linhas de transmissão de Furnas, Itaipu perdeu espaço no fornecimento da energia consumida no país neste período de recordes de consumo. Em dezembro e janeiro, a usina vinha fornecendo 14% da energia consumida, segundo o ONS. Não que a usina esteja produzindo menos. Relatórios do ONS mostram que a energia fornecida pela hidrelétrica está na mesma faixa de antes, entre 7.500 e 8.000 MW médios.

No entanto, conforme o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, a decisão visa a aliviar o sistema, restringindo o risco de uma sobrecarga. Isso porque o fluxo em algumas linhas de transmissão que trazem energia de Itaipu vem sendo reduzido para que Furnas faça manutenções, o que foi intensificado desde o último apagão, em novembro. Uma das possíveis causas apontadas para o blecaute, na época, foi a falha de equipamentos, chamados isoladores, por causa da chuva, em três linhas.

O problema de usar menos Itaipu é que a energia da hidrelétrica é mais barata do que a das termelétricas. Chipp estima que esse uso emergencial custará R$ 80 milhões, a serem repassados ao consumidor. A precaução adicional com o sistema, adotado pelo ONS, é uma consequência do último apagão. Desde então, o ONS vem trabalhando com o critério de "contingência tripla". Em outras palavras, o planejamento da segurança da rede de transmissão passou a ser feito de forma a considerar alternativas para evitar blecaute na hipótese de três linhas de transmissão entrarem em curto ao mesmo tempo.

Já o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que os picos de demanda de energia nos últimos dias se deram por conta do maior uso de equipamentos como o ar-condicionado. (Com Folhapress)