Título: Por ação do PT e omissão do PSDB, Dilma cresce
Autor: Fick , Jeff
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2010, Especial, p. A14

As rígidas normas de construção civil do Chile ajudaram a evitar um número ainda maior de mortes no gigantesco terremoto de sábado, mas o uso intensivo de tijolos de adobe nas regiões mais atingidas do país andino fez com que muitas estruturas fossem incapazes de resistir à força do tremor.

Os bairros mais antigos de Santiago, a capital do país, sofreram os maiores danos, porque muitas casas foram construídas com tijolos de adobe. A mistura de argila e fibras vegetais suporta bem o peso, mas não resiste ao movimento violento causado pelos terremotos.

Já os arranha-céus do país, mais modernos, resistiram às sacudidas violentas por causa dos padrões de construção adotados em 1996, disse Christian Seal, professor de engenharia civil da Universidade de Santiago, do Chile.

Muitos dos prédios que formam o perfil de Santiago foram construídos usando sistemas estruturais que usam concreto reforçado - ou seja, concreto com barras de ferro ou malhas de aço embutidas.

"Os prédios que desabaram foram os velhos, de adobe", disse Seal. "Os novos edifícios só desabaram em casos excepcionais."

Mais de 700 pessoas morreram no terremoto de sábado, um tremor de 8,8 graus na Escala Richter, o quinto mais poderoso de que se tem registro, e as autoridades ainda estão conduzindo resgates. Há muita atividade sísmica no Chile - um terremoto de 9,5 graus, o mais forte já registrado no mundo, atingiu o país em 1960 - e o de sábado foi o pior dos últimos 50 anos. Os chilenos aprenderam com os primeiros terremotos e adotaram novas normas de construção para as estruturas mais modernas.

Os padrões de construção podem fazer uma grande diferença no dano sofrido durante um terremoto. Parte do motivo pelo qual o terremoto que atingiu o Haiti em janeiro ceifou mais de 300 mil vidas é que os edifícios do país caribenho não foram construídos com as mesmas regras rígidas que o Chile agora exige.

No Chile, os edifícios novos devem ser inspecionados por terceiros para certificar os planos e a construção. Eles também têm de ser aprovados pelas autoridades.

As estruturas de adobe são construídas de uma maneira que permite resistir a uma força chamada compressão, a gravidade empurrando para baixo. Mas os terremotos criam pressões diferentes: um exemplo é a tração, ou os fortes movimentos em sentidos diferentes que podem fazer um prédio desmoronar.

O concreto reforçado permite que as estruturas suportem as movimentações geradas pelos terremotos. O concreto propicia a proteção contra compressão, enquanto a malha de aço permite resistir à tração. A combinação é projetada para permitir que os edifícios modernos suportem os tremores violentos causados pelos terremotos.

Prédios construídos com estruturas modernas geralmente não desabam durante um terremoto, porque pilares e vigas no núcleo do prédio apoiam cada andar. As janelas e os revestimentos, todavia, são mais frágeis e às vezes caem porque integram a estrutura criada pelo concreto e o aço.

"O maior perigo durante um terremoto é que partes da fachada do prédio podem cair e atingir pessoas na rua", disse Seal, o professor universitário.

Muitas áreas ao redor do luxuoso distrito empresarial de Santiago estão cheias de destroços como esses, com calçadas cobertas de tijolos e pedaços de concreto isoladas pela polícia com fitas que alertam: "Perigo".

O conserto dos danos causados pelo terremoto pode criar uma atividade econômica febril no setor chileno de construção civil. As empreiteiras chilenas já têm experiência em reparar danos causados por terremotos, especialmente após um tremor em 1985 que chegou a 7,7 graus.

A reconstrução das regiões mais atingidas do sul do Chile, onde é comum ter casas de adobe, e o reparo dos danos estéticos às estruturas modernas de Santiago vão impulsionar uma forte demanda por materiais de construção, segundo um executivo de uma empreiteira que pediu para não ser identificado. Ele disse que as construtoras já começaram a se preparar para lidar com os problemas que devem ser criados pela reconstrução.

"As construtoras estão realizando reuniões de emergência de seus conselhos para avaliar como vão atender ao que preveem que será uma demanda vertiginosa por materiais de construção", disse o executivo. Ele disse que os produtos mais procurados devem ser materiais de construção leve como painéis de revestimento, divisórias e compensados.

O Chile conta com ampla capacidade de produção porque muitas das fábricas que produzem esses materiais, que eram exportados aos Estados Unidos durante o boom imobiliário, fecharam as portas ou estão com capacidade ociosa por causa da crise financeira mundial.

"A capacidade está lá, e acho que pode ser reiniciada rapidamente", disse o executivo.

No sul do país, o governo provavelmente vai estimular a construção rápida de casas temporárias para abrigar as pessoas antes do outono e do inverno, disse um executivo.

O governo provavelmente vai pressionar as construtoras para construir as casas até maio, quando o outono do país é substituído pelo inverno e ocorrem chuvas em algumas das áreas mais atingidas.