Título: Baixa competição entre teles inibe portabilidade
Autor: Mahlmeister , Ana Luiza
Fonte: Valor Econômico, 15/01/2010, Empresas, p. B3

Muito aguardada pelos assinantes de telefonia fixa e móvel, a portabilidade numérica completa um ano de operação em março, cobrindo os 67 DDDs nacionais, mas permanece longe das previsões iniciais de migração em massa de assinantes, totalizando 4,5 milhões de pedidos até a primeira semana de janeiro.

A razão do baixo impacto da portabilidade numérica é que o assinante vê pouca diferenciação entre os serviços, avalia o analista sênior do Yankee Group, Julio Püschel. A baixa competição na telefonia fixa também é apontada como entrave à mobilidade entre os assinantes por Luiz Cuza, presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp). "O Brasil é o único país onde a portabilidade entrou em vigor antes da desagregação das redes, isto é, sem a regulamentação do uso da infraestrutura por empresas competitivas", afirma.

De setembro de 2008 até a primeira semana de janeiro foram feitos 4,5 milhões de pedidos de portabilidade e 3,8 milhões atendidos de um universo de 41 milhões de assinantes de telefonia fixa e 170 milhões de móvel. O teste começou em setembro de 2008 com oito DDDs e a prova de fogo ocorreu em março de 2009 com a entrada em operação em cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro, um processo acompanhado de perto pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

A legislação de telecomunicações prevê o compartilhamento das redes, mas os preços não são regulados. "Uma empresa competitiva poderia receber, por exemplo, 10 mil pedidos de portabilidade, mas na prática só teria capacidade de atender a mil, porque sua rede não alcança aquele cliente e é caro construir infraestrutura", diz Cuza. Para a TelComp, a desagregação das redes poderia quintuplicar os números da portabilidade numérica porque há cabos ociosos, mas não empresas que possam prestar o serviço. Cuza lembra que entre os pedidos de portabilidade na telefonia fixa (em torno de 1,02 milhão) está a requisição da simples mudança de endereço, o que disfarça o resultado real.

Investir em rede própria foi uma das preocupações da Embratel quando começou a se preparar para receber novos clientes que queriam manter seus números, principalmente entre o público das pequenas e médias empresas. Em 2008, a companhia destinou R$ 170 milhões na rede de rádio WiMax para ampliar o número de localidades atendidas. Em 2009, foram mais R$ 1,08 bilhão em infraestrutura terrestre. "Das 1,02 milhão de linhas portadas até o início de janeiro, em todo o país, 464 mil migraram para os serviços da Embratel: Livre, Net Fone, Embratel Pequenas e Médias Empresas ou Telefonia Corporativa. Temos uma participação de 46% no total de números portados em telefonia fixa", afirma Maurício Vergani, diretor executivo da Embratel.

Além das redes, a companhia reforçou investimentos no atendimento. "A portabilidade acelerou nossa expansão, pois a manutenção do número era uma grande barreira para a mudança de operadora, segundo uma pesquisa que fizemos entre os clientes empresariais", diz Vergani. Como diferencial dos serviços, ele destaca a oferta de pacotes integrados e a supressão da assinatura mensal.

Construção de rede própria também foi a opção da GVT para alcançar novos clientes, com a ampliação do número de cidades atendidas a partir de 2008. "Após a portabilidade, fomos muito procurados por clientes querendo nossos produtos e serviços em cidades onde não estamos presentes", afirma Alcides Troller Pinto, vice-presidente de marketing e vendas da GVT. Para se preparar para a migração de clientes, a empresa reforçou os investimentos em rede em 2008, quando aplicou R$ 750 milhões. Mais R$ 600 milhões foram investidos no ano passado. Segundo o executivo, nas cidades onde atua, a GVT captura entre sete e oito linhas para cada linha perdida, totalizando 360 mil ativações até o fim de 2009. "Em algumas cidades tivemos 62% de todos os números portados em telefonia fixa", diz Pinto.

O ano de 2008 funcionou como um teste para a GVT, que analisou o volume e o tipo de serviço almejado pelos usuários que migravam para a empresa. Em 2009, ela adequou os recursos técnicos e de vendas para essa demanda, com lançamento de serviços a cada trimestre. "Telefonia com banda larga de alta velocidade a preços acessíveis foram apelos importantes de vendas", diz o executivo. A empresa tem feito mais vendas para clientes residenciais do que empresariais.

Para Püschel, do Yankee Group, não bastará oferecer acesso à internet ou TV. "As empresas de telefonia fixa terão que gerar mais diferenciais, agregar conteúdo de TV em portais e oferecer vídeo", diz o analista.

A entrada em vigor da portabilidade não provocou grande diferenciação nas estratégias das operadoras móveis. A exceção foi a Oi, que inicialmente focou em assinantes pré-pagos com a distribuição de chips. Nesse segmento, os assinantes já experimentam diversas empresas mudando o chip, conforme a promoção, sem portar o número, e não há percepção de mudanças significativas no serviço. No segmento pós-pago, de clientes com maior valor, houve pouca diferença entre os pacotes da Oi, Vivo, TIM e Claro. "É preciso mais do que a portabilidade para atrair o cliente", afirma Püschel. Ele destaca que nesse mercado a área de atendimento é um diferencial importante e deve receber mais investimentos.