Título: Crescimento limitado
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 29/06/2010, Economia, p. 15

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu um ritmo mais ¿prudente¿ de expansão da economia no ano que vem. Após o superaquecimento verificado neste ano, com economistas estimando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) ao redor de 7%, ele recomendou ontem o aperto do freio para que a velocidade não passe de 5,5% em 2011.

¿Depois de um ano forte, o seguinte tem de dar uma ajustada, mas acho que 5,5% é uma taxa possível (de se alcançar sem provocar inflação). Em 2012, já dá para voltar para 6%, 6,5%¿, disse o ministro à agência Reuters na noite de domingo, apostando na melhora da capacidade produtiva da indústria doméstica. ¿Eu prefiro crescer um pouco menos e manter o equilíbrio macroecômico. Não é muito prudente crescer mais que isso.¿

Um dos primeiros países a se recuperar do declínio provocado pela crise global, o Brasil vive às voltas com temores de aceleração da inflação. O Banco Central (BC) já elevou a taxa básica de juros duas vezes neste ano, chegando aos atuais 10,25%. Os analistas de mercado preveem novas altas até dezembro, que poderiam colocar a Selic em 12%.

Mantega concedeu a entrevista em Toronto com aparatos de chefe de Estado. Substituto oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do G-20 (grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia), discursou no fim de semana ao lado de líderes como o presidente norte-americano, Barack Obama, e o francês, Nicolas Sarkozy.

Bandeira No Canadá, o ministro vocalizou a bandeira dos países emergentes e dos Estados Unidos de que, para o bem da economia global, é imperativo que o mundo cresça. Para isso, ainda haveria necessidade de aumento dos gastos públicos. A tese encontra resistência na Europa, em ensaio geral para um aperto das contas, o que deve representar retirada dos estímulos à atividade.

Segundo Mantega, os países europeus mais fortes têm de estimular sua demanda doméstica e contribuir para a retomada do comércio internacional, para não deixar o trabalho nas mãos dos países emergentes. Conhecidos pela sigla Bric, Brasil, Rússia, Índia e China vêm puxando a recuperação econômica global. Para o ministro, é prematuro eliminar estímulos e seguir na linha do aperto severo, sob o risco de comprometer parte central da engrenagem econômica mundial.