Título: Alívio antes do esperado
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 29/06/2010, Economia, p. 15

Analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central antecipam de dezembro para outubro a estimativa para o fim do atual ciclo de elevação dos juros. A última alta seria de 0,25 ponto percentual

O mercado revisou as estimativas para as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) e antecipou o fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic) esperado, inicialmente, apenas em dezembro. Os cerca de 100 analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) projetavam dois aumentos de 0,75 ponto percentual nas próximas reuniões, uma pausa em outubro e um novo avanço de 0,25 ponto em dezembro. No relatório divulgado ontem, a previsão dessa última elevação passou para outubro, movimento que seria seguido por uma pausa para avaliar os resultados da política monetária restritiva.

Para o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, a mudança demonstra mais coerência. ¿Do jeito que estava, não fazia muito sentido, porque o mercado trabalha com dois cenários. No primeiro, haveria uma pausa a partir de setembro, para recomeçar a mexer na taxa só no ano que vem. No segundo, elevação da taxa sem pausa até o fim do ano. Não teria muito sentido uma parada em uma única reunião¿, considerou. O mercado também reviu a atuação do BC para o ano que vem e antecipou para janeiro o aumento de 0,25 ponto percentual que estava previsto apenas para março.

As instituições reduziram ainda a perspectiva de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 5,61% para 5,55% neste ano, refletindo o bom comportamento dos preços de alimentos. Para Teles, as expectativas devem continuar caindo e vão contribuir para ancorar as estimativas de 2011 ¿ o mercado já mantém por 11 semanas a previsão de 4,80% de inflação em 2011.

O trabalho da equipe de Henrique Meirelles, no entanto, não deve ser aliviado, mesmo com projeções comportadas para o ano que vem. Além de choques de preços imprevisíveis, o aumento da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas concessões de crédito deve desequilibrar essa balança. O fato ocorre porque, como o banco trabalha com taxas de juros ubsidiadas, quanto mais abrangente é sua atuação, menor é a eficácia dos justes realizados na Selic.

Custo do crédito Segundo o economista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria, o efeito tem aumentado nos últimos anos, com o reforço do governo no caixa do banco. Entre 2009 e 2010, foram aportados R$ 180 bilhões com a emissão de papéis do Tesouro Nacional. ¿Na prática, a Selic, que regula o custo do crédito e, portanto, do dinheiro disponível na economia, acaba atuando em uma parcela cada vez menor desses recursos. Para fazer o mesmo efeito, esses ajustes têm que ser cada vez mais fortes¿, considerou.

A concessão de crédito do BNDES aumentou 2,7% em maio e 40,8% em 12 meses. Para Andrade, a política de bancar com dinheiro público a diferença dos juros entre o captado no mercado e o cobrado pelo BNDES é positiva, mas a longo prazo, pode ser prejudicial para a administração da dívida.

Na contramão dos preços de alimentos também estão os custos de construção, que avançaram de 0,93% em maio para 1,77% em junho, segundo indicador divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas. O resultado foi puxado pelo índice de custo da mão de obra, que avançou 2,59%, impulsionado por reajustes salariais em Brasília e São Paulo. Os valores de materiais, equipamentos e serviços aumentaram 1,02%.