Título: Programa do PMDB pode se opor à Telebrás
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 19/03/2010, Política, p. A10

Setores do PMDB mais afastados do PT querem fazer do programa de governo que o partido começou a discutir ontem um "divisor de águas" na relação com o partido a partir da introdução nele tanto de pontos que foram refutados pelos petistas no 4º Congresso da legenda, em fevereiro, como também em aspectos que sabidamente o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se opõe.

Como exemplo mencionados, estão a criação da Telebrás - à qual o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), já se opôs -; e o fortalecimento das agências reguladoras, enfraquecidas na gestão petista. Temas apoiados explicitamente pelo PT no congresso da legenda, como a intensificação da reforma agrária, a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas e a defesa do Plano Nacional de Direitos Humanos, deverão ser ou "esquecidos" na proposta pemedebista ou rejeitados.

"O programa do PT não é uma referência para o do PMDB", afirmou o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara depois de uma eleição disputada com o correligionário e conterrâneo Mendes Ribeiro Filho, apoiado pelos petistas por defender, ao contrário de Padilha, palanque duplo para Dilma no Rio Grande do Sul.

Padilha foi ministro dos Transportes no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), tem grande trânsito com a oposição e defende que o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB), seja o único palanque em seu Estado do governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O PT trabalha para que Fogaça também apoie Dilma.

A expectativa de Padilha é de que o programa de governo do PMDB seja um "divisor de águas" no posicionamento do partido na sucessão presidencial. "É uma proposta que pode ser implementada até mesmo por uma candidatura própria do partido. A diferença é que a partir disso seremos protagonistas, não importando se individualmente ou coletivamente", afirmou. Sobre a aliança com o PT, ele questiona: "Tem aliança fechada? Antes da convenção tudo pode acontecer. O PMDB não aceita mais ser adesista, quer ser protagonista. Não aceita mais o que vem acontecendo com o partido", disse.

Presidente da Fundação Ulysses Guimarães, o órgão de estudos da legenda, Padilha irá coordenar o grupo de trabalho cuja primeira reunião foi ontem. Dela participaram o ministro Nelson Jobim (Defesa), o ex-ministro Mangabeira Unger, o vice-presidente da Caixa Moreira Franco, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o presidente do PMDB e da Câmara dos Deputados, Michel Temer (SP), e o líder da sigla na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Duas datas estão pré-definidas para o grupo: 15 de abril, o texto do grupo será finalizado e submetido a deputados, senadores, governadores e prefeitos da sigla, que darão contribuições que serão consolidadas em um novo texto sistematizado a ser apresentado no dia 29 de abril. A apresentação final ocorrerá no congresso do partido, agendado para o dia 8 de maio.

Serão chamados para uma ajuda informal os economistas Marcos Lisboa e André Urani, que elaboraram um programa de governo para o PMDB em 2002, quando os pemedebistas coligaram formalmente com Serra. São grandes defensores de reformas microeconômicas, como a tributária e a previdenciária.

Com o programa, o partido quer também atingir outros objetivos. Um é o de afastar as críticas de fisiologista, e outro é o de se impor na discussão com os aliados da sucessão presidencial em cima de áreas que o partido pretende se consolidar em um eventual governo Dilma - ou Serra. Questões como infraestrutura, energia e saneamento são colocadas como estratégicas e de grande interesse.

Delimitando propostas e rumos a serem seguidos nesses setores, o partido já começaria a marcar posição, a partir de uma avaliação interna de que ele pouco participa do governo. Possui seis ministérios, dos quais quatro são tidos como legitimamente pemedebistas: Integração Nacional (Geddel Vieira Lima), Minas e Energia (Edison Lobão), Agricultura (Reinhold Stephanes) e Comunicações (Hélio Costa). Defesa (Nelson Jobim) e Saúde (José Temporão) são considerados mais cotas pessoais. A composição deveria ser ampliada a partir de 2011, com a ocupação, por exemplo, dos ministérios da Cidades e dos Transportes, que têm grande disponibilidade de recursos mas que atualmente estão com PP e PR, respectivamente o ministro Márcio Fortes e Alfredo Nascimento.