Título: Celulose em alta atrai investidor "forasteiro"
Autor: Fontes, Stella
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2010, Empresas, p. B8

Ele é dono de shopping center, ex-proprietário de frigorífico, cidadão proeminente de Andradina (SP), possuidor de milhares de hectares de terras, sobretudo na região Centro-Oeste e, mais recentemente, presidente da Florestal Investimentos Florestais e da Eldorado Celulose, empresa que nasceu quando o atual ciclo de alta dos preços da celulose ainda se desenhava. Qualquer uma das ocupações é verdadeira para definir o empresário Mário Celso Lopes, que, junto com a J&F, controladora da maior indústria de carnes do mundo, a JBS Friboi, representa uma categoria de investidores "forasteiros" que enxergou na produção da matéria-prima um negócio promissor. O "novo minério", expressão usada por um dos mais respeitados analistas de celulose, vem atraindo cada vez mais recursos que antes eram direcionados a outras atividades e acabou reunindo, na Eldorado Celulose, a J&F e a MCL Empreendimentos, do empresário andradinense de 54 anos, cujos passos têm sido acompanhados por olhos atentos dos produtores tradicionais desse setor.

O projeto da Eldorado começará a ganhar contorno em 15 de junho, no mesmo dia do aniversário da cidade de Três Lagoas (MS), quando será lançada a pedra fundamental da primeira fábrica de celulose branqueada de eucalipto da companhia no município sul-mato-grossense. Com início de operação previsto para 2013, a unidade poderá produzir 1,5 milhão de toneladas anuais de celulose e, segundo fonte da indústria, é implementado "a toque de caixa". "Eles estão arrendando o máximo de terras que conseguem e o mais rápido possível", relata.

O projeto inicial da Eldorado, que futuramente poderá ser listada na BM&FBovespa, receberá investimentos de R$ 4,8 bilhões, dos quais cerca de R$ 3 bilhões em empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), conforme almejam os sócios. Fornecedores de equipamentos, que tradicionalmente participam do projeto financeiro, devem entrar com mais R$ 1 bilhão em financiamentos. "Já estamos conversando com os principais fornecedores. Temos a licença ambiental, prévia e de instalação, e faltará apenas a de operação", afirma Lopes. Segundo o empresário, as negociações com o BNDES, que é acionista da JBS via BNDESPar, também já estão em andamento.

Hoje, a relação entre os sócios da Eldorado Celulose mistura amizade e negócios. Residentes em Andradina, Mário Celso Lopes e a família Batista começaram a costurar laços no fim da década de 90, quando o dono da MCL comprou da Sadia e reativou o frigorífico Mouran, posteriormente vendido à JBS. Da parceria na pecuária para a silvicultura, conta o empresário, foram menos de 10 anos. Em 1995, Lopes já havia fundado uma companhia de reflorestamento, que deu origem à Florestal Investimentos Florestais. Em 2007, a J&F ingressou na empresa com a compra de 50% do capital. No ano passado, a Florestal constituiu um fundo de investimento, o Florestal Brasil, por meio do qual os fundos de pensão Funcef e Petros aplicaram R$ 550 milhões e ficaram com 49% do capital da empresa. "Foi a Florestal que encomendou os estudos sobre a fábrica de celulose. Num primeiro momento, a família Batista estava mais interessada na comercialização da madeira", conta.

Convencer os controladores da JBS a entrar na produção de celulose, de acordo com o empresário, não foi difícil. Com preços em ascensão, perspectivas positivas para a demanda mundial e o papel cada vez mais notável do Brasil nessa indústria jogaram a favor do projeto da Eldorado. "Assim que viu, a J&F entendeu que o projeto era bom", diz.

Atualmente, a Eldorado conta com 40 mil hectares de florestas plantadas na região de Três Lagoas, mesmo município em que a Fibria instalou sua mais nova fábrica de celulose. A partir de 2010, conta o presidente da empresa, a Florestal plantará cerca de 30 mil hectares de eucalipto ao ano, que vão suprir a unidade fabril da Eldorado.

A entrada dos novos investidores na indústria não é alvo de crítica aberta dos produtores tradicionais, embora desperte incômodo. Num primeiro momento, a agressividade na compra de terras - e a presença de mais competidores - levou à valorização do hectare na área onde será erguida a fábrica e também a Fibria planeja instalar uma nova linha. Além disso, o projeto da Eldorado entrará em operação no mesmo momento em que concorrentes, como Suzano e Fibria, planejam dar a partida em novas linhas. Oficialmente, a direção de ambas as companhias afirma que a chegada de um novo "player" sinaliza que o futuro é promissor para todos.

Sobre o empresário Mário Celso Lopes, por sua vez, há quem use o adjetivo "polêmico". No ano passado, foi envolvido em um episódio com o Ministério do Trabalho, que rescindiu indiretamente os contratos de 23 seringueiros que trabalhavam em uma fazenda do empresário em Pontal do Araguaia (MT). "Eles não gostam desse tipo de contrato. Os contratos foram rescindidos e está tudo certo", diz Lopes.