Título: Fraudes eletrônicas somam R$ 500 mi
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2010, Finanças, p. C3

O aumento do número de operações bancárias pela internet tem sido acompanhado também pelo crescimento de crimes cibernéticos. As fraudes eletrônicas a bancos somam, por ano, cerca de R$ 500 milhões, incluindo a clonagem de cartões. A estimativa é de Carlos Eduardo Sobral, chefe da divisão de crimes cibernéticos da Polícia Federal (PF), com base em informações da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Na quarta-feira, a entidade que reúne as principais instituições financeiras do país e a PF assinam o chamado protocolo de execução de fraude bancária eletrônica. Com isso, a Polícia Federal entra no jogo e passa a fazer parte do combate a crimes eletrônicos contra bancos. Até então, a tarefa ficava a cargo da Polícia Civil - com exceção da Caixa Econômica Federal, cujos ataques virtuais já eram de responsabilidade da PF.

A iniciativa conta com a adesão, até o momento, de Banco do Brasil (BB), Bradesco, Itaú Unibanco, Banco de Brasília e Banco da Amazônia. Outras instituições estão ajustando seus sistemas para assinar o protocolo com a PF. Santander e Citi estão em processo final, de acordo com Wilson Gutierrez, diretor da comissão de prevenção a fraudes da Febraban. "A grande vantagem desse acordo está na amplitude de ação da PF, que é nacional", afirma. "É comum que os ataques realizados em uma determinada unidade da federação acabem parando em contas correntes de outros Estados."

De fato, o delegado Carlos Eduardo Sobral explica que as invasões em sistemas de bancos para desvio de dinheiro não ocorrem de forma isolada. Elas passam necessariamente pelo crime organizado. "É preciso que exista uma estrutura envolvendo desde pessoas encarregadas de atualizar programas espiões até laranjas para receber o dinheiro das transações", diz. De posse dos dados dos bancos, o trabalho de desmantelamento das quadrilhas ganha um enorme reforço. Hoje, existem aproximadamente 100 grandes investigações em andamento. A expectativa de Sobral é de que, até o fim do ano, esse número dobre e, em dezembro de 2011, chegue a 300 investigações. "Desse total, a meta é solucionar ao menos 50 casos", diz.

A Febraban não revela o número de crimes cibernéticos cometidos contra os bancos. O diretor da comissão de prevenção a fraudes da entidade afirma apenas que o valor é proporcionalmente inferior à expansão das operações com cartões e por meio da internet. O ritmo menor de evolução é resultado do trabalho de monitoramento interno feito pelas instituições. Os investimentos em tecnologia da informação vão consumir, ao todo, R$ 15 bilhões dos bancos, em 2010, segundo Gutierrez. De acordo com a PF, R$ 1,2 bilhão deverá ser direcionado ao aprimoramento dos controles internos contra fraudes.

A ação da PF vai ocorrer em paralelo ao trabalho feito pela Polícia Civil, que é o órgão responsável pelo atendimento ao público, em geral, que inclui registro de boletins de ocorrência. "Nosso foco não é o tratamento isolado da fraude, mas o combate ao crime organizado", esclarece o delegado Sobral.

Existem 586,6 milhões de cartões de crédito e débito em circulação que, no ano até abril, movimentaram R$ 533,8 milhões. A web responde por 20% das 47 bilhões de operações feitas nos bancos. São 35 milhões de contas correntes que apresentam movimentação regular pela rede mundial.