Título: Consolidação do setor sucroalcooleiro chega ao Nordeste brasileiro
Autor: Batista , Fabiana
Fonte: Valor Econômico, 12/08/2010, Agronegócios, p. B14
Fabiana Batista, de São Paulo
Depois do forte movimento de consolidação no segmento sucroalcooleiro no Sudeste do país e da onda de construção de usinas no Centro-Oeste, investidores agora garimpam no Nordeste novas oportunidades de negócios com açúcar e álcool.
Até agora relegada pela maioria dos grandes grupos em expansão na área, a região tem na logística um diferencial considerável para atrair novos projetos e aportes. Para eventuais aquisições, pesa o fato de os preços dos ativos industriais nordestinos serem, em média, 20% menores do que no Sudeste. Também a possibilidade de criação de companhias maiores a partir de parcerias regionais está na mira de players do ramo.
Nesse contexto, diz Marco Gonçalves, diretor de fusões e aquisições do BTG Pactual, negociações para fusões e aquisições já estão em andamento no Nordeste. Ele não revela detalhes, mas diz que "há três ou quatro grupos, que reúnem capacidade de moagem de cana equivalente a algo como 25 milhões a 30 milhões de toneladas, que são interessantes para grupos que querem se expandir no Nordeste". Com 73 usinas, a região tem capacidade para moer 75 milhões de toneladas de cana por safra, o que significa cerca de 11% da capacidade nacional.
Mas há gargalos crônicos que ainda deixam alguns possíveis investidores com o pé atrás, e alguns deles são bem conhecidos: baixa produtividade agrícola, terrenos mais íngremes e de difícil mecanização e um ciclo vicioso que ajudou a formar um segmento que, de forma geral, usa pouca tecnologia em relação ao Centro-Sul.
Daí a importância, para os investidores, do fator logístico. As taxas de elevação (carregamento no navio) de açúcar nos portos, por exemplo, são de US$ 7 por tonelada nos portos do Nordeste, ante US$ 11,50 em Santos, segundo levantamento da consultoria Datagro. Além disso, afirma Plínio Nastari, presidente da Datagro, os gastos com frete são bem menores.
"Enquanto uma usina na região de Ribeirão Preto [SP] tem que despender R$ 60 por tonelada transportada até o porto de Santos, as distâncias menores entre usina e portos no Nordeste fazem com que os gastos com frete fiquem em R$ 16 a tonelada". Pedro Robério de Melo Nogueira, presidente do Sindicato de Açúcar e Álcool de Alagoas, informa que, na média, as usinas do Estado ficam a 60 quilômetros da região portuária - distância que, em São Paulo, supera 200 quilômetros. "Há usinas que estão a 30 quilômetros do litoral, e não precisam sequer gastar com armazenamento no porto", diz.
Esses custos menores têm compensado o rendimento agrícola inferior de muitos dos produtores nordestinos. "Além disso, para muitos destinos externos, o frete marítimo é menor a partir do Nordeste, o que redunda em menos custos. São estes os principais motivos que fazem a região ser competitiva internacionalmente", afirma Nastari.
Outro ponto importante é que, historicamente, os preços do açúcar no mercado interno nordestino são bem superiores aos registrados no Sudeste. Com exceção de parte de dezembro, em todos os outros 11 meses do ano o preço da saca de 50 quilos do açúcar cristal é mais alto no Nordeste do que em São Paulo (Indicador Cepea/Esalq), segundo levantamento da consultoria FCStone com base em preços dos últimos cinco anos. Em junho, julho e agosto, a diferença chega a R$ 10 por saca, com a saca valendo R$ 44 em Pernambuco e R$ 34 em São Paulo.
Conforme Gonçalves, do BTG Pactual, para aproveitar as vantagens e diluir os problemas, os investidores interessados no Nordeste procuram grupos locais que tenham escala maior, entre 3 milhões e 4 milhões de toneladas de capacidade, e nos quais possam assumir o controle mesmo sem 100% do negócio.
A escala ainda é um problema na região. Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a capacidade média de moagem das usinas do Nordeste é de 790,8 mil toneladas por safra, ante a média de 1,6 milhão das usinas do Centro-Sul. No entanto, as consolidações regionais vêm sendo estudadas justamente para driblar essa dificuldade e aumentar a atratividade dos ativos nordestinos.