Título: Agnelo quer combater rorizismo no DF
Autor: Ottoni , Luciana
Fonte: Valor Econômico, 04/10/2010, Política, p. A17

A estratégia de Agnelo Queiroz (PT) para vencer a eleição para o governo do Distrito Federal em segundo turno é se apresentar como "adversário do rorizismo". O petista, que obteve 48,41%% dos votos, disputa o segundo turno com Weslian Roriz (PSC), dona de casa sem experiência política que se tornou candidata faltando dez dias para as eleições e saiu do primeiro turno com 31,5% dos votos.

Ela substituiu o marido, o ex-governador Joaquim Roriz, que teve de desistir da campanha por estar impedido pela lei da Ficha Limpa.

"Nossa luta não é contra Joaquim Roriz ou a mulher dele, é contra o rorizismo", disse Agnelo Queiroz. Na coligação que sustenta a candidatura de Agnelo, e que é formada também pelo PMDB que era até agora aliado de Roriz, a busca do apoio dos dois candidatos derrotados, Toninho do PSOL e Eduardo Brandão (PV), não está decidida.

A estratégia do petista se baseia no fato de que, ao se apresentar como adversário do "rorizismo", os outros candidatos, com perfil de centro-esquerda, o buscarão para formar uma frente de oposição a Weslian e a Joaquim Roriz. Mas o apoio não é certo porque os candidatos derrotados do PSOL e do PV criticam o petista pela aliança com peemedebistas e com políticos ligados ao grupo do ex-governador José Roberto Arruda. Em 2009, Arruda foi preso e teve que deixar o cargo por envolvimento em desvio de verba pública. Agnelo também criticou o candidato do PSOL, Toninho, durante a campanha.

O petista também buscará maior envolvimento do presidente Lula e espera que Cristóvam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), eleitos para o Senado pelo DF, se engajem na campanha do segundo turno.

Weslian Roriz manterá uma campanha amparada na imagem do marido. Com mais 27 dias de campanha, ela ganha tempo para contornar seu despreparo na apresentação do projeto de governo e tende a priorizar propostas de cunho assistencialista. Os coordenadores da campanha do PSC disseram que ela contava levar a disputa para o segundo turno.

Dois fatos impediram a campanha ao governo do DF de ser decidida ontem. O primeiro foi que Weslian Roriz atraiu grande parte dos votos direcionados ao marido. O fator preponderante foi que, como a substituição ocorreu em 24 de setembro, quando as urnas já estavam lacradas, o eleitor se deparou com a foto e o nome de Joaquim Roriz no momento de votar. Além disso, o candidato do PSOL avançou na reta final. As pesquisas indicavam que ele tinha cerca de 8% das intenções de voto. No entato, Toninho obteve 14%, diferença que impediu Agnelo de vencer.

Nessa disputa não está completamente descartada uma interferência da Justiça Eleitoral por meio do Ministério Público Eleitoral (MPE). A participação de Weslian na eleição foi decidida só no sábado pelo TRE-DF. O julgamento sobre a concessão do registro eleitoral à candidata ficou empatado com três votos a favor e três contra e teve que ser decidido pelo presidente do Tribunal, João Mariosi, que votou a favor.

Poucos dias antes desse julgamento, o MPE havia encaminhado parecer ao TRE-DF recomendando que a candidatura dela fosse barrada. Para o MPE, a candidata do PSC é uma concorrente de fachada cujo nome foi lançado na semana anterior à eleição para tentar manter Joaquim Roriz vinculado ao governo do DF.

A despeito da aprovação da candidatura por parte do Tribunal Eleitoral, o MPE advertiu que tem competência para apresentar uma ação de impugnação de mandato eletivo com os mesmos argumentos que constam do parecer encaminhado ao TRE-DF.

Incidentes ocorridos ontem dão o tom da disputa até o fim do mês. A coordenadoria jurídica da coligação do petista formalizou, ontem, denúncia ao TRF-DF pedindo a apuração de divulgação de propaganda que vincula Agnelo Queiroz a Arruda.

As aparições públicas de Weslian Roriz continuam a ser marcadas por deslizes. Ontem, a candidata não acertou de primeira a forma de votar. Quando concluiu a digitação dos números teve que voltar à urna por ter se esquecido de confirmar o voto.