Título: Comprar real no exterior fica caro
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2010, Finanças, p. C3

Com a nova rodada de aumento do IOF para os fundos, os preços dos ativos em reais no exterior ficaram relativamente mais caros que no mercado interno.

Um bom parâmetro de comparação são os rendimentos dos títulos do Tesouro brasileiro no mercado interno e no externo. Ontem, no mercado interno brasileiro, sujeito ao novo IOF, as Notas do Tesouro Nacional da Série F (NTN-Fs), títulos públicos da dívida interna prefixados que pagam cupom (juros nominais) como os papéis da dívida externa, tiveram alta forte em seus rendimentos, de 11,40% ao ano para 11,90% ao ano considerando-se o vencimento de 2021. Esses papéis são os preferidos dos estrangeiros.

Segundo o Barclays, os fundos estrangeiros detêm cerca de 32% do estoque desses papéis. O susto com o IOF justifica a queda de preço e aumento do rendimento, que se move no sentido contrário ao preço. Já no mercado externo o comportamento dos papéis do Tesouro brasileiro denominados em reais foi completamente outro. Os títulos com vencimento em 2022 ficam com seus rendimentos estáveis, em 8,859% ao ano, na comparação com os 8,83% ao ano anteontem, segundo a "Bloomberg". É bem menos do que os 11,90% ao ano dos papéis até mais curtos no mercado interno brasileiro.

No dia 30, antes do aumento do IOF, os rendimentos dos papéis no exterior estavam em 9,14% ao ano. Vieram caindo, portanto. Enquanto isso, as NTN-Fs vieram mostrando alta do rendimento desde então. Entre 24 de setembro (quando o governo começou a falar em aumento da taxa de IOF de 2% para 4%) e 5 de outubro, um dias após o primeiro aumento, o rendimento das NTN-Fs de vencimento em janeiro de 2017 e 2021 subiu 22 e 28 pontos básicos, respectivamente, diz o Barclays Capital.

Para Marcelo Salomon, estrategista do Barclays, mais aumentos de rendimentos nesses papéis no mercado interno estão por vir. Enquanto isso, a demanda por títulos em reais no exterior cresce e até o Morgan Stanley lançou papéis na moeda brasileira. O mercado espera para já uma emissão do Tesouro nacional em reais no exterior para atender a essa demanda.

O mercado mais afetado com o aumento no IOF foi o chamado "on off", que negocia o spread entre o preço do câmbio futuro no mercado interno em relação ao mesmo preço no mercado externo. Inicialmente essa diferença era de quase zero e subiu para algo como 0,2% ao ano com o primeiro aumento do IOF. Ontem, esse mercado inicialmente fechou, mas depois chegou a ter negócios em 0,6% ao ano. Comprar reais futuros no exterior é mais caro que que fazer o mesmo no mercado interno brasileiro.