Título: Câmara concorrida
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2010, Cidades, p. 23

O DF tem 35,63 candidatos para cada vaga de deputado distrital. É a maior média do país. Escândalos políticos fizeram a disputa ficar ainda mais acirrada, segundo especialistas

As denúncias de pagamento de propina para deputados distritais não afugentaram os candidatos a uma das 24 cadeiras da Câmara Legislativa. Pelo contrário. Mesmo após a Operação Caixa de Pandora, que já causou a saída de três parlamentares e afetou a imagem da Casa, 855 pessoas resolveram enfrentar as próximas eleições. O número torna o Distrito Federal o primeiro colocado na relação de candidato por vaga, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). São 35,63 concorrentes para cada cadeira. É a maior média do país.

No segundo lugar aparece o Rio de Janeiro, com 25,29 candidatos para cada vaga de deputado estadual (veja quadro). Em seguida, São Paulo apresenta uma média de 19,65. É a unidade da Federação com o maior número de candidatos: 1.847. Mas os paulistas também elegerão o maior número de representantes para a o Poder Legislativo 94 no total.

Proporcionalmente, é mais fácil passar no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) do que conquistar uma vaga na Câmara Legislativa. Para as provas do último fim de semana, 21.791 estudantes se inscreveram para concorrer a uma das 3.958 vagas oferecidas. A média de candidatos foi de 5,5 para cada vaga. Medicina é o único curso mais disputado do que a briga eleitoral, com a proporção de 84,1 concorrentes por vaga. Em segundo lugar, vem direito (noturno), com 19,25.

O cargo de deputado distrital será o mais concorrido nas eleições no DF. A Câmara dos Deputados oferece oito cadeiras para os 117 candidatos brasilienses. A relação é de uma vaga para cada 14,62 postulantes. No Senado Federal, são duas vagas para os 13 concorrentes, e o Executivo local só poderá ser ocupado por um dos oito candidatos.

Quem se eleger para a Câmara Legislativa ocupará um gabinete na nova sede. O prédio construído no Setor de Indústrias Gráficas custou R$ 106 milhões três vezes mais que o previsto. Além disso, o distrital recebe um salário de R$ 12.384,06 e tem R$ 11.250 de verba indenizatória para custear escritórios políticos, despesas com combustíveis, divulgação do mandato, entre outros. A verba de gabinete é de R$ 97.602,92. Com ela, o parlamentar pode contratar até 25 servidores. Por fim, ele também tem direito a receber um salário no início e outro no fim de cada ano.

Pandora Segundo o professor aposentado de ciências políticas da UnB Octaciano Nogueira, a Operação Caixa de Pandora foi uma das responsáveis por atrair tantos concorrentes à Câmara. Brasília ainda está vivendo as consequências do mensalão e muitos acreditam que será possível fazer uma grande renovação no parlamento, diz. Outro fator seria a polarização dos candidatos em segmentos. Levantamento divulgado pelo Correio mostra que 70% dos deputados eleitos em 2006 representavam grupos específicos, como sindicatos, categorias profissionais ou religiões. Cresce cada vez mais o número de políticos que atuam por bandeiras de corporações do que por razões ideológicas, e como são muitos segmentos, acabam existindo muitos candidatos, explica Nogueira.

A coligação A Força do Povo (PSC e PRTB) é a que possui o maior número de postulantes. São 77. O presidente do PSC, Valério Neves, afirma que foi difícil fazer a seleção. Eram 186 pré-candidatos e muita gente ficou frustrada porque já possuía uma atividade política e queria entrar na disputa, ressalta. Para Neves, a grande quantidade de pessoas revela o sentimento de desgosto com os atuais políticos e a vontade de renovação.

O TSE registrou a candidatura de 40 membros do Partido dos Trabalhadores para a Câmara Legislativa. O presidente da legenda no DF, Roberto Policarpo, diz que a estratégia é reunir o maior número de candidatos para que se possa superar o quociente (1)eleitoral. Ele destaca, ainda, que no DF não existem eleições para vereador e prefeito. Quem quer entrar na vida política em Brasília procura primeiro a Câmara Legislativa; por isso existe essa grande quantidade de pessoas, explica.

O Distrito Federal é a menor unidade federativa do país, com 5,8 mil quilômetros quadrados, mas é a quarta maior no número de candidatos. Se fosse feita uma divisão geográfica, seria um postulante por 6,8 quilômetros quadrados. A maior concentração nacional. Sergipe, o menor estado, tem um candidato por 156,5 quilômetros quadrados. São Paulo possui um por 134,38 quilômetros quadrados.

Na contramão da maioria dos partidos, o PSTU lançará apenas dois concorrentes a deputado distrital. O presidente da sigla, Ricardo Guillen, um dos candidatos, diz que havia outros nomes, mas explica que a estratégia é fazer um trabalho para conquistar o voto de legenda. A maioria das coligações é formada por partidos de aluguéis, com membros que não defendem um mesmo programa. No fim das contas, o eleitor vota em uma pessoa e acaba elegendo outro com ideais totalmente diferentes, critica.

1 - Conta Quociente ou coeficiente eleitoral é o número mínimo de votos que uma coligação precisa obter para conseguir eleger um parlamentar. Para obtê-lo, dividi-se o número de votos válidos pelo de vagas. Por causa dessa regra, um candidato com muitos votos, mas em um partido que recebeu uma baixa votação, pode perder a vaga para um concorrente menos votado, mas que faz parte de uma legenda forte. Para uma vaga na Câmara Legislativa, estima-se que o quoficiente eleitoral em 2010 será de 75 mil votos. A bolada

Os benefícios mensais de um deputado distrital são:

R$ 12.384,06 - É o salário mensal de cada parlamentar

R$ 11.250 - É o total da verba indenizatória

R$ 97.602,92 - É quanto soma a verba de gabinete para contratação de até 25 servidores