Título: Crise em Furnas pode afetar nomeações para o 2º escalão
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 02/02/2011, Política, p. A8

A crise política na estatal Furnas Centrais Elétricas e a decisão da presidente Dilma Rousseff de nomear uma diretoria estritamente técnica para acabar com a influência do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na empresa, como adiantou o Valor na edição de ontem, mudou completamente a correlação de forças na disputa pelo segundo escalão do setor elétrico. Flávio Decat, aliado de Dilma e tido como nome certo para presidir a Eletrobras, poderá ser convocado para presidir Furnas, o que seria facilitado por ser um funcionário de carreira da empresa. Para as demais diretorias, seriam nomeados pessoas "que trabalham com Decat há 30 anos", segundo informaram fontes que acompanham de perto as negociações.

Para interlocutores políticos, a mudança de planos para Flávio Decat não significaria um desprestígio, já que este tem uma reconhecida capacidade técnica, está acima de apadrinhamentos políticos e preencheria os requisitos desejados pela presidente para sanear uma das principais subsidiárias do setor elétrico. O problema é que isso reabre o debate sobre quem presidirá a empresa holding do setor.

Dilma continua disposta a tirar José Antonio Muniz Lopes Filho da presidência da Eletrobras. Afilhado do presidente reeleito do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Muniz Lopes já havia sido informado que deixaria o cargo. Sarney negociava com o governo a indicação de outra vaga para seu afilhado, possivelmente na Eletronorte, estatal que ele já presidiu e que ganhará prestígio nos próximos anos com a entrada em operação das usinas do Rio Madeira - Santo Antônio e Jirau - e de Belo Monte.

O problema da presidente é quem colocar no lugar de José Antonio Muniz. Uma das opções seria Valter Cardeal, diretor da Eletrobras e considerado por analistas como "olhos e ouvidos de Dilma na estatal". Mas Cardeal enfraqueceu-se após as denúncias de que teria avalizado a construção de uma usina a gás no Rio Grande do Sul que causou prejuízos à Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e de que teria participado de um suposto desvio de verbas do Programa Luz para Todos.

Outro nome cotado é do ex-ministro de Minas e Energia, atual secretário-executivo da Pasta, Márcio Zimmermann. Considerado inicialmente como afilhado do atual ministro, Edison Lobão, Zimmermann conseguiu desvencilhar-se de seu padrinho mas não o suficiente para garantir autonomia política. Contra ele não pesam acusações, mas ele não tem condições de, sozinho, cacifar-se para ocupar o cargo.

Uma saída seria nomear para a presidência da Eletrobras um nome de pouca visibilidade, já que a holding tem outras diretorias importantes, como a diretoria financeira. Mas nesse caso, Dilma poderia cair em uma armadilha, na opinião de aliados, pois provocaria uma disputa política acirrada pelos demais diretorias da estatal.

Lobão já deu declarações defendendo a indicação de Decat para Furnas. "É um nome que conta com a confiança da presidente e de minha também", elogiou. Para integrantes do PMDB, seria uma forma de "carimbar a marca Sarney" em um nome apadrinhado pela presidente Dilma Rousseff.

O desfecho do caso Furnas irritou profundamente o Palácio do Planalto. O governo sempre quis tirar a estatal da órbita de comando do deputado Eduardo Cunha. Não só o orçamento da empresa alimentava as ambições do deputado fluminense, mas sobretudo o fundo de pensão dos servidores da empresa, o Real Grandeza. Dilma e o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, articulavam com o PMDB para encontrar uma saída política para promover mudanças na estatal.

A saída estava praticamente sacramentada. O PMDB de Minas assumiria Furnas. Mas o PT fluminense estragou tudo ao elaborar um dossiê contra Cunha, apontando uma pressão da empresa junto ao BNDES para conceder empréstimos a empresas com péssimo conceito cadastral. Além disso, a antiga direção negociou ações que provocaram prejuízos milionários à estatal.

Como o dossiê foi entregue pelo deputado Jorge Bittar (PT-RJ) ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, o Palácio do Planalto acabou envolvendo diretamente no problema, não apenas com a solução.