Título: No Nordeste, mais de mil cidades precisam investir em obras
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2011, Especial, p. A16

O Nordeste continua a ser a região mais problemática em abastecimento de água à população. As projeções de consumo medidas pela Agência Nacional de Águas (Ana) apontam que, até 2015, 74% dos 1.794 municípios da região poderão passar por problemas de oferta de água. Ao todo, 1.068 precisam realizar obras de ampliação de sistemas hídricos. Outras 248 cidades terão de recorrer à abertura de novos mananciais. Muitos desses municípios estão dentro do Estado baiano, que lidera o volume de investimentos necessários entre os nove Estados da região. Ao todo, são precisos R$ 2,6 bilhões para tocar os projetos baianos.

"Temos avançado, mas é preciso reconhecer que ainda há muito trabalho pela frente", diz Abelardo Oliveira Filho, presidente da Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa). Dos 14 milhões de habitantes de 417 municípios baianos, a Embasa atende 11,5 milhões de pessoas que vivem em 356 cidades. Hoje, segundo Oliveira Filho, 95% das 10 milhões de pessoas que vivem em áreas urbanas da Bahia tem abastecimento de água tratada, mas cerca de 50% dos 4 milhões da zona rural ainda não tem acesso à água. "Nos últimos quatro anos, a Embasa captou R$ 3,4 bilhões e já investiu a metade disso. Até 2012 temos assegurados o restante", comenta Oliveira Filho. "É o maior investimento já feito pela empresa em seus 40 anos, mas é pouco perto de nossas necessidades."

Boa parte dos projetos na Bahia está relacionada à abertura de novos mananciais. Entre esses está a instalação de uma adutora no São Francisco, para atendimento à região de Irecê, onde vivem 300 mil pessoas em 20 municípios. A obra começou no ano passado e deve ser concluída até início de 2012. O custo é de R$ 180 milhões. "Já investimos R$ 75 milhões, vamos captar mais R$ 32 milhões com BNDES e haverá mais R$ 73 milhões previstos no PAC 2", diz Oliveira Filho.

O pacote total de recursos necessários para a região Nordeste estimado pelo Atlas Brasil, estudo elaborado pela Ana, é de R$ 9,1 bilhões. A maior parte dos recursos - R$ 6,4 bilhões, o que equivale a 29% do previsto para o país - é direcionada para o semiárido, que abrange os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, chegando a atingir parte da região Norte de Minas Gerais. A região soma 1.133 municípios e abriga uma população de 20 milhões de habitantes, dos quais 56% vivem em área urbana e 44% na zona rural.

O rio São Francisco desponta como um dos principais mananciais da região, com vazão atual para 128 municípios de cinco Estados (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe). Quando as obras da transposição estiverem concluídas, calcula-se que o número de cidades atendidas poderá saltar para 215, atingindo uma população de 5,6 milhões de pessoas até 2025. As obras do São Francisco também têm orçamento pesado quando o assunto é tratamento de esgoto. O tratamento da bacia hidrográfica é estimado em R$ 2,4 bilhões. "O volume de recursos no semiárido é de tal monta que, em muitos casos, extrapola a capacidade do Estado de resolver seu problema sozinho", diz Sérgio Ayrimoraes, superintendente-adjunto de Planejamento da Ana. (AB)