Título: No porto de Uruguaiana, caminhoneiro precisa pegar senha
Autor: Bueno, Sérgio Ruck
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2011, Especial, p. A16

De Uruguaiana e Paso de Los Libres

Sem a integração do trabalho das autoridades brasileiras e argentinas no desembaraço das exportações do Brasil em Paso de Los Libres, o porto seco de Uruguaiana se aproxima do esgotamento da capacidade. Segundo Flávio Renato Evaristo, gerente da Eadi Sul, concessionária do grupo EcoRodovias que administra a unidade aduaneira desde 2003, o local, que pode receber 180 mil caminhões por ano, deve fechar 2011 com movimento de 170 mil veículos.

A situação ameaça provocar dificuldades adicionais para os importadores e exportadores brasileiros que negociam com Argentina, Chile e Uruguai e precisam passar por Uruguaiana. O porto seco recebe de 600 a 800 caminhões por dia, mas em momentos de maior movimento, como ocorre às segundas-feiras, filas se formam do lado de fora do terminal e a administração precisa distribuir entre 30 e 70 senhas para agendar o atendimento, explica Evaristo.

Uruguaiana tem espaço para 600 caminhões, mas pode acomodar até 870 usando os corredores entre as vagas, diz o executivo. Cerca de 70% dos veículos estacionados transportam produtos importados, porque a liberação das mercadorias que entram no Brasil é mais demorada. Mesmo assim, como 30% das cargas paradas são para exportação, a integração no lado argentino abrirá espaço para o porto brasileiro aumentar em mais de 40% a capacidade de atendimento às importações.

Para o delegado da Receita Federal em Uruguaiana, Jorge Luiz Hergessel, é importante que a ampliação do Complexo Terminal de Cargas (Cotecar), em Libres, esteja pronta para receber os fiscais brasileiros no início de 2012. Segundo ele, do total de R$ 1,1 bilhão em impostos federais arrecadados na cidade no ano passado, R$ 950 milhões foram gerados pelas operações de importação no porto seco.

Uruguaiana também enfrenta a concorrência de outros portos secos nas fronteiras, diz Evaristo. "Há uma tendência de maior distribuição das cargas", comenta. No ano passado, o terminal local recebeu 162,4 mil caminhões (62% destinados à exportação), que transportaram US$ 9,2 bilhões em cargas, com altas de 16,5% e 34,6% sobre 2009, respectivamente.

Na divisa entre São Borja e Santo Tomé, onde a integração operacional está mais avançada, o crescimento foi de 39,5%, para 88,4 mil veículos, segundo a Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI).

De acordo com o gerente, só neste ano a Eadi Sul planeja investir R$ 1,4 milhão em melhorias operacionais, das instalações e da segurança do terminal rodoviário. Segundo ele, desde o início de 2010 o tempo médio para o desembaraço das exportações caiu de sete horas para menos de cinco horas. No caso das importações, 70% dos caminhões eram liberados em mais de 48 horas e hoje esse percentual caiu para 57%.

"O atendimento da Receita Federal melhorou, assim como o trabalho dos despachantes e dos transportadores", explica. O terminal, que opera de segunda à sexta-feira das 8h às 21h e aos sábados, das 8h às 14h, cobra diárias de R$ 16 a cada seis horas de permanência do caminhão. Para armazenagem, a tarifa é de R$ 4,73 por metro cúbico ou 0,11% sobre o valor da mercadoria com seguro e frete, o que for maior. Os valores foram estabelecidos na licitação da Receita Federal, vencida pela concessionária. (SRB)