Título: Carreira floresceu à sombra de Maluf e do PT
Autor: Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 11/07/2011, Política, p. A7

De Mogi das Cruzes (SP)

Nos idos de 1969, Valdemar Costa Neto, homem forte do PR, dono da quinta maior bancada da Câmara dos Deputados, era apenas o "Boy", filho do então prefeito de Mogi das Cruzes, Waldemar Costa Filho. Enquanto o pai cultivava a fama de valentão, adquirida desde os tempos em que chegou à cidade para trabalhar na Mineração Geral do Brasil -mesmo quando prefeito, Waldemar andava sempre armado - "Boy" ia e vinha pelas ruas de Mogi, então um município com pouco mais de 40 mil habitantes, a bordo de motocicletas e carros, inacessíveis à maioria dos jovens locais na época.Waldemar, o pai, fez toda sua carreira política na cidade, que comandou quatro vezes. Muito próximo a Paulo Maluf (PP), usou da influência junto ao ex-governador para fazer as grandes obras viárias da cidade, como a rodovia Mogi-Bertioga, concluída durante a gestão de Maluf, que o levou para sua única incursão em uma administração fora de Mogi, fazendo-o secretário de abastecimento da prefeitura de São Paulo, entre 1993 e 1996. Já o filho, que se formou em Administração de Empresas, queria seguir carreira na política, mas mirava Brasília, para onde seguiu em 1991 e atualmente cumpre seu sexto mandato consecutivo como deputado federal pelo PR.

Os votos mogianos foram decisivos à ascensão política de Valdemar, mas minguaram nos últimos anos. Os 18,6 mil votos recebidos na cidade em 2010 foram um bom aumento em relação a 2006 quando, abatido pelo mensalão, Valdemar teve apenas 9,6 mil votos. As duas votações parecem ínfimas se comparadas ao que o deputado conseguiu em 2002, quando amealhou 45,7 mil votos em Mogi (27% do total).

No entanto, seu prestígio e influência junto às lideranças da região se mantém. Hoje secretário de Desenvolvimento Econômico de Mogi das Cruzes, Marcos Damásio (PR), conta um episódio que mostra o trânsito privilegiado de Valdemar: "Fiz parte de um grupo de vereadores que foi ao ministério da Agricultura pedir que eles cedessem um terreno que lhe pertencia na região, para a construção de um hospital. Fomos recebidos maravilhosamente, coisa fina mesmo. Tudo por influência do Valdemar".

Recentemente, o secretário-geral do PR viabilizou R$ 48,4 milhões para a construção de dois viadutos no município. "Seria um projeto impossível de realizar se não tivesse um deputado influente como ele", afirma o vereador Jolindo Rennó (PSDB). Na cerimônia de assinatura do contrato, em maio, Valdemar levou Luiz Antônio Pagot, diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos afastados por conta do suposto esquema de corrupção no ministério dos Transportes, que derrubou o ministro e correligionário de Valdemar, Alfredo Nascimento.

Na região do Alto Tietê, o PR fez prefeitos em Guararema, Itaquaquecetuba e Arujá. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, o PR elegeu um deputado, André do Prado (PR), ex-prefeito de Guararema e afilhado político de Valdemar.

Em Mogi, o prefeito Marco Bertaiolli (DEM) recebeu apoio de Valdemar. O PR comanda a secretaria de Desenvolvimento Econômico. Para 2012, o PR anseia dobrar sua bancada, hoje de três vereadores (são 16 no total). Para isso, usará no município do mesmo "efeito Tiririca" do plano federal, lançando o palhaço Bubu, popular em Mogi, como candidato à vereança. A uma rádio local, Valdemar declarou que apoiará Bertaiolli à reeleição. Muito próximo a Kassab, o prefeito chegou a anunciar sua ida para o PSD, mas desistiu.

Valdemar só fala com a imprensa de seu município. Depois de 2005, quando foi capa de uma edição da revista Época, recusou qualquer pedido de entrevista. Em 2009, resolveu falar ao jornal "O Diário de Mogi". Nesta entrevista, abriu o jogo sobre sua estratégia em relação ao processo do mensalão, que se baseará em declarações dadas pelo vice-presidene José Alencar, falecido este ano, ao programa Roda Viva, da TV Cultura: "Quando o Zé Alencar foi responder [sobre o caixa dois que abasteceu o PL], falei: "tô morto". Ele tinha acabado de sair de uma operação de 18 horas, não ia se lembrar. Mas o camarada contou a história toda. Vou abrir a minha defesa contando que fiz um acordo com o PT, "tá aqui a confirmação do Alencar". Eles só podem me condenar por crime eleitoral, que já está prescrito".

Em março, à Rádio Metropolitana, Valdemar contou que é recebido "com certa freqüência" pela presidente Dilma Rousseff (PT), mas que ingressa no gabinete presidencial pela garagem, para evitar falatório.

No início deste mês, um dia antes de a revista "Veja" denunciar um suposto esquema de superfaturamento no Ministério dos Transportes, o deputado voltou a ser entrevistado pela rádio de Mogi: "Vamos falar claro: movimentei o caixa dois da campanha. Isso, todos os políticos brasileiros faziam. Todos. Se um camarada falar que não fazia isso antes, é um covarde, porque todos os políticos faziam isso". Disse ainda que o bloco que formou na Câmara cobrava a presidente, via Nascimento, mais espaço na máquina federal: "E o que é que eu quero? Quero uma diretoria na Caixa Econômica Federal, no Banco do Brasil. O dinheiro não sai na Caixa [Econômica Federal]. Eles não assinam coisa na Caixa. Eu tendo um diretor, sai na hora", disse.