Título: Gurgel deve ser reconduzido à Procuradoria-Geral
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2011, Política, p. A5

Juliano Basile | De Brasília

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deve ser reconduzido para mais dois anos no cargo.

A presidente Dilma Rousseff concordou em assinar a indicação de Gurgel e a expectativa é a de que o nome dele saia publicado no "Diário Oficial" de hoje. Em seguida, ele terá de passar por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e terá de ser aprovado no plenário para assumir o cargo.

Se for aprovado, Gurgel será o procurador-geral durante o julgamento do escândalo do mensalão. A expectativa no Supremo Tribunal Federal (STF) é a de que o caso seja julgado no primeiro semestre de 2012. Cabe ao procurador-geral fazer a acusação contra os políticos, empresários e banqueiros envolvidos no escândalo de compra de apoio político durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O fato de Gurgel ter um perfil equilibrado e discreto foi fundamental para a sua recondução. O procurador-geral é considerado pelo governo como alguém que não contemporiza com a classe política se tiver indícios claros de crimes em suas mãos. Ao mesmo tempo, é discreto. Gurgel não antecipa condenações pela imprensa e é conhecido pelo seu cuidado ao dar declarações a respeito de apurações em andamento envolvendo autoridades. O procurador-geral é alheio a holofotes. Prefere estudar minuciosamente os casos ao invés de sair dando declarações antecipadas à imprensa. Nessas horas, é cauteloso. Mas, quando chega a uma conclusão e se ela for pela abertura de investigações, costuma ser mais rigoroso.

Gurgel está no comando do MPF, desde 22 de julho de 2009. Ele está nos últimos dias dos dois anos de seu mandato. No início desse período, ele defendeu a condenação de Antonio Palocci por violação de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. No fim, pediu o arquivamento das denúncias sobre o suposto enriquecimento ilícito de Palocci, que acabaram por fazer com que o então ministro-chefe da Casa Civil deixasse o governo.

No início de 2010, Gurgel pediu intervenção no governo do Distrito Federal por causa das denúncias de esquema local de compra de apoio parlamentar, que ficou conhecido como mensalão do DEM. No início deste ano, foi pelo arquivamento de denúncia contra o vice-presidente da República, Michel Temer, por concluir que não havia indício de seu envolvimento em suposto esquema de cobrança de propinas no Porto de Santos.

Gurgel foi o mais votado durante eleição feita pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) para o comando do MPF. Ele obteve 454 votos. Os subprocuradores Rodrigo Janot e Ela Wiecko tiveram, respectivamente, 347 e 261 votos. A lista com os três nomes foi enviada para a presidente, no início de maio.

Dilma não precisa seguir a lista, mas, desde o início do governo Lula tem prevalecido a indicação do mais votado na lista da ANPR. Antes de Gurgel, foram indicados: Antonio Fernando de Souza (duas vezes) e Claudio Fonteles (uma vez). Antonio Fernando foi o autor da denúncia do mensalão no STF.

Gurgel defende as principais bandeiras da base do MPF, como o fim do foro privilegiado e o poder investigatório do MP.