Título: China planeja salto de produção até 2015
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2011, Empresas, p. B7

Uma gigante em cada vez mais segmentos da indústria, a China deve se consolidar no topo do ranking dos produtores mundiais de papel e abrir larga distância em relação ao segundo colocado, os Estados Unidos, até 2015. No país onde foi inventado o produto, há quase 2 mil anos, serão adicionadas nos próximos quatro anos mais 35 milhões de toneladas métricas anuais à capacidade produtiva atual, que ultrapassa a casa de 90 milhões de toneladas métricas por ano. Com esse volume, que equivale a quase 10 vezes a produção anual brasileira, os chineses tomaram a liderança dos americanos no mercado mundial em 2010 e passaram a incomodar a indústria local de diversos países, que não raramente se queixa da agressividade dos concorrentes asiáticos. A oferta adicional, segundo informações do governo e da indústria papeleira chinesa, será majoritariamente voltada ao mercado doméstico, que ainda engatinha se considerados os números relativos de demanda. Nos Estados Unidos, por exemplo, o consumo per capita de papel está acima de 360 quilos por ano. Em território chinês, esse indicador está em 60 quilos por habitante. "As coisas mudam rapidamente na China", ressalta a diretora de Relações Públicas da APP China, Sophy Huang. Maior produtora asiática de papéis, a APP recém-inaugurou a maior linha individual de produção do mundo, na Província de Hainan, com capacidade para até 1,2 milhão de toneladas por ano, e já trabalha no projeto de uma segunda máquina, com o mesmo tamanho. "O potencial do mercado doméstico é enorme e o foco da indústria é produzir para consumo interno", acrescenta.Em 2010, conforme levantamento da entidade que representa o setor papeleiro chinês, a China Paper Association, a capacidade produtiva da indústria estava em 92,7 milhões de toneladas, incluindo papéis produzidos com outros tipos de fibra, como a de sisal ou de bambu. Sem considerar esse tipo de produto, as fábricas chinesas poderiam produzir pouco mais de 60 milhões de toneladas anuais, conforme informação da indústria não confirmada oficialmente. Desde 2000, levando-se em conta o primeiro indicador, a produção chinesa de papel e papel-cartão tem crescido co ritmo de 11,8% ao ano. Por outro lado, o consumo de papéis, considerando-se os mesmos tipos de produto, cresceu a taxas ligeiramente inferiores. No ano passado, conforme a associação, a demanda chinesa ficou em 91,7 milhões de toneladas, confirmando assim média de crescimento anual de 9,7% desde 2000. "Até 20 anos, não havia papel absorvente (tissue) de qualidade no país. Hoje, a realidade é outra e o governo investirá para que cada vez mais os chineses tenham acesso a esse produto", ressalta Sophy.

Um levantamento da consultoria independente Hawkins Wright, especializada no setor de celulose e papel, relativo às capacidades adicionais de papel na China que já foram confirmadas e entrarão em atividade até 2013, mostra que papéis para embalagem e tissue são o principal alvo dos investimentos, com mais de 80% do volume adicional previsto para o período. "Há mais de 1,3 bilhão de habitantes na China, o que constitui um mercado muito vasto para a indústria", ressalta a diretora da APP.

Parte das novas linhas chinesas de papel será abastecida por celulose local, embora o país não seja um produtor tradicional de fibra. Até 2013, segundo previsão da indústria, o país poderá produzir 6,6 milhões de toneladas a mais da matéria-prima, seja a partir de eucalipto, seja de acácia ou pinus. O restante da fibra terá de ser importado e o Brasil, especialista em celulose branqueada de eucalipto, poderá se firmar como maior fornecedor dos chineses nesse segmento. Na primeira metade deste ano, mais de 40% da celulose importada pela China teve origem em fábricas brasileiras.

Atenta ao potencial do mercado chinês, e ao crescimento generalizado da demanda por celulose branqueada de eucalipto nos próximos anos, a indústria brasileira também se preparou para um novo ciclo de investimentos. Nos próximos 10 anos, serão cerca de US$ 20 bilhões em aportes, que resultarão em aumento da base florestal em 45%, para 3,2 milhões de hectares. Na área de celulose, a expansão de capacidade será de 57%, para 22 milhões de toneladas - há quem já fale em 25 milhões de toneladas por ano até 2025 -, e em papel, o crescimento será de 30% (ante o verificado em 2010), para 12,7 milhões de toneladas.

Ao mesmo tempo em que concede ajuda financeira para que as papeleiras locais cumpram as previsões de crescimento e dá suporte aos planos de crescimento traçados até 2015, o governo chinês tem trabalhado para melhorar a imagem do setor junto ao resto do mundo. Vista como poluente e agente devastador de florestas nativas, a indústria chinesa de papel e celulose tem sido submetida a cada vez mais rigorosos programas de responsabilidade ambiental e social, que resultaram no fechamento de inúmeras fábricas. Em seu mais recente pronunciamento acerca do assunto, o governo chinês anunciou, na primeira dezena deste mês, que, somente em 2011, serão fechadas linhas de produção com capacidade total de 8,2 milhões de toneladas por ano de celulose e papel. Em maio, a previsão era a de que fosse encerrada a produção de 7,45 milhões de toneladas/ano.