Título: Deputado articulou entrada do PMDB no governo
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2004, Política, p. A-8

Longe dos microfones da Câmara, afastado das principais comissões e sem ter apresentado nenhum projeto de lei, Jader Barbalho (PMDB-PA) é um dos mais influentes deputados desta legislatura. O ex-presidente do Senado teve papel fundamental na articulação que se arrastou durante todo o ano de 2003 e que culminou com a entrada do partido na base do governo e no ministério. A abertura da ação penal no Supremo Tribunal Federal tolhe seus movimentos quando agia para conseguir o adiamento da convenção nacional do partido marcada para 12 de dezembro, que decidirá se a sigla fica ou não ao lado do Planalto. Sua proximidade com o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, é política e geográfica: além de ser vizinho de porta de Eunício no luxuoso bairro do Lago Sul, Jader cabalou votos para o parlamentar cearense tornar-se líder da bancada na Câmara e impediu que ele fosse desautorizado pelos colegas de partido na votação da reforma da Previdência, quando Eunício constatou que estava em minoria na defesa da proposta do governo. Em uma tensa reunião interna, Jader pediu a palavra e virou o quadro dentro do PMDB: 45 dos 73 deputados da sigla na época aprovaram a proposta. A argumentação de Jader passou longe da defesa do governo Lula: o paraense sustentou que o partido só mostraria força se desse respaldo às suas lideranças institucionais. Em paralelo, o ex-senador agiu em 2003 para fortalecer seus ex-companheiros de defesa do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Trabalhou intensamente para que o deputado Geddel Vieira Lima (BA) se elegesse para a mesa diretora da Câmara e apoiou a eleição de Michel Temer para a presidência do partido. No mês passado, rompendo a discrição, o deputado tentou evitar, em um encontro público, que o PMDB aprovasse a convocação da convenção de dezembro. Não conseguiu e voltou aos bastidores, articulando o boicote dos deputados do partido ao evento. O empenho de Jader na defesa do governo Lula deve-se à política regional. O PSDB do Pará, liderado pelo governador Simão Jatene e pelo ex-governador Almir Gabriel, derrota-o no Estado há dez anos. Jader aspira voltar a governar o Estado ou pelo menos retornar ao Senado em 2006, e não há espaço para ele na oposição a Lula. Este ano, elegeu o filho Hélder para prefeito de Ananindeua, segundo colégio eleitoral do Estado, numa disputa em que o PT teve um candidato figurante. Em troca, Jader apoiou candidatos sem chances de vitória em Belém e Santarém, como forma de facilitar a vida dos candidatos petistas. O PT triunfou na última cidade, mas perdeu na capital para o petebista Duciomar Costa, apoiado pelos tucanos. Esta conjunção de resultados o deixou fortalecido para começar a projetar a sua volta ao primeiro plano: Jader começou a negociar uma coalizão com o PT nas próximas eleições, mas os petistas negam a possibilidade de uma aliança formal com a presença de Jader na chapa majoritária. "Esta possibilidade não existe. Sou candidato a governador e uma aliança minha com Jader na chapa seria mal recebida na capital", afirmou o deputado Paulo Rocha (PT-PA). Uma alternativa para Jader seria a coligação branca: o deputado apoiaria um candidato simbólico para o governo estadual e se lançaria para senador, desde que o PT investisse na eleição para o comando do Estado e deixasse aberto o caminho para ele ao Senado. Este tipo de acerto foi feito pelo parlamentar em outras eleições. Em 2002, foi o deputado mais votado do Estado e o candidato pemedebista ao governo do Estado teve menos de 2% dos votos válidos. O novo retorno do caso Banpará ao noticiário pode desestruturar esta articulação. Em 2001, quando presidia o Senado, foi o ressurgimento deste escândalo na mídia que o colocou em uma situação que provocou sua renúncia em setembro daquele ano. Caso não sofra uma condenação judicial, o caminho mais provável para Jader seria a reeleição como deputado.