Título: Resistência gaúcha a mudar de partido freia PSD no Estado
Autor: Junqueira ,Caio
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2011, Política, p. A6

Caio Junqueira | De Brasília O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, idealizador do PSD, decide neste fim de semana qual solução terá a nova legenda no Rio Grande do Sul, quinto maior colégio eleitoral do país com mais de 8 milhões de eleitores. Ao contrário da maioria dos 25 Estados cujo registro partidário deve ser apresentado aos Tribunais Regionais Eleitorais até 5 de agosto, Kassab ainda não encontrou uma liderança política de expressão para comandar o diretório gaúcho do PSD.

Seguindo a estratégia adotada nos outros Estados, fez incursões a políticos com mandato eletivo ou detentores de bases eleitorais relevantes. O primeiro a ser sondado foi o ex-governador Germano Rigotto (PMDB), que recusou. Em seguida, tentou atrair o PP, sigla com forte presença nos municípios agrícolas gaúchos. São 150 prefeitos, 122 vice-prefeitos e 1.177 vereadores. Kassab conversou com o deputado federal Jerônimo Goergen, ligado ao ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes. Ambos consultaram suas bases e receberam, segundo dirigentes do PP, "um não bem grande".

O PT do governador Tarso Genro sequer abriu possibilidade de conversa, assim como outros partidos com solidez no Estado, caso do PTB e seus três deputados federais, e do PDT, também com mesmo número de representantes na Câmara. Chegou-se a pensar em dissidentes do DEM, mas posteriormente constatou-se ser isso inviável. Seu único representante em Brasília, deputado Onix Lorenzoni, presidente do diretório regional, virou desafeto de Kassab devido ao PSD. Inclusive já insultou-o na tribuna da Câmara.

Diante desse cenário e com o prazo de registro perto do fim, Kassab tem duas alternativas: ou opta por aguardar investimentos em outros nomes de peso ou dá o comando do partido no Estado a algum político sem grande respaldo eleitoral. No Estado, a avaliação é de que esse segundo caminho é mais o provável.

"O PSD vai sofrer aqui. Se quiserem ir nessa linha dos outros Estados e começar por cima não vão conseguir nenhuma liderança muito expressiva. Vão ter que pegar lideranças intermediárias, construir o partido da base como os outros partidos também construíram", diz o deputado federal Pepe Vargas (PT-RS). De acordo com ele, até mesmo partidos de âmbito nacional não conseguiram se enraizar no Rio Grande do Sul. "Muitos ainda não decolaram aqui. O DEM não consegue se consolidar porque o PP, do seu mesmo espectro ideológico, é forte. Assim como o PSDB também não consegue ter grandes bases porque o PMDB é forte", analisa.

O presidente regional do PP, Pedro Bertolucci, prefeito de Gramado (RS) em quatro ocasiões, avalia que o eleitor gaúcho é refratário à migrações partidárias. "Há um enraizamento dos partidos aqui nas bases que é difícil se desfazer. O eleitor não é muito simpático a isso e inibe a migração. Não adianta mudar e ficar sem os votos", afirma. Ele diz não ser possível "contar nas duas mãos" casos de migrações bem-sucedidas. Menciona duas, de dois ex-deputados federais: Nelson Marchezan, que circulou pelo PSD, PTB e PSDB; e Júlio Redecker, que foi do PP ao PSDB. "Acho que o PSD vai ser um diretório fraco aqui. Pode atrair gente nova na política, mas líderes consolidados não acredito que atraia."

Além do Rio Grande do Sul, outro Estado em que o PSD não deve estar consolidado até a próxima semana é o Amapá. Só que por razões diversas. Kassab não quer desagradar dois importantes aliados. Um deles, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), padrinho do PSD no Maranhão e que enfrenta forte oposição do governador Camilo Capiberibe (PSB), o que impede de, como nos outros Estados, fincar-se na administração regional. Também não pode buscar nomes dentro do PSB do governador, tendo em vista um acordo tácito com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, de que o PSD retire nomes do PSB.