Título: EUA querem discutir infraestrutura no Brasil
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2011, Brasil, p. A3

A pedido do governo dos Estados Unidos, o financiamento de investimentos de infraestrutura no Brasil será um dos principais temas do encontro que haverá, nesta semana, entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, em Washington, à margem da reunião anual do FMI e do Banco Mundial. Desde o início do ano, o assunto foi escolhido pelo governo americano como prioridade na relação com o Brasil. Os EUA querem facilitar a associação de empresas do país com sócios brasileiros, para investir em áreas como energia e gás.

Segundo autoridades brasileiras que acompanham o assunto, ainda não há um programa claro do governo americano sobre o modelo dessa associação para investimentos em infraestrutura. Mas o encontro entre Geithner e Mantega, realizado como parte do acordo de cooperação na área de finanças e economia, servirá para medir o grau de interesse dos americanos e a avaliação do governo de Barack Obama sobre as perspectivas de investimentos para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Mantega deverá abordar com o secretário do Tesouro americano as estratégias dos dois países para a regulação financeira internacional e as medidas contra a crise global. Na linha do que a presidente Dilma Rousseff vem dizendo durante sua estadia em Nova York, as autoridades brasileiras tem insistido na necessidade de evitar o aprofundamento da recessão com as medidas de controle fiscal em curso na Europa e Estados Unidos.

É bem vindo em Brasília, no entanto, o interesse americano nos investimentos para os eventos esportivos e nas atividades associadas à exploração da camada de petróleo no pré-sal. Os EUA acenam como apoio ao financiamento desses investimentos, que, segundo estimativas oficiais devem chegar a US$ 47 bilhões só no caso da Copa do Mundo. Os investimentos previstos pela Petrobras no desenvolvimento do polo do pré-sal na Bacia de Santos somam US$ 73 bilhões. Desde janeiro, autoridades americanas sondam o governo brasileiro sobre as condições de participação de empresas dos EUA nesses empreendimentos.

O próprio presidente americano, Barack Obama, ao visitar o Brasil, em março, disse que os investimentos conjuntos com o Brasil estão no topo de sua agenda para o país. Autoridades dos EUA, como o subsecretário de Energia, David Sandalow, e o secretário de Estado adjunto para Assuntos Econômicos, Energéticos e Comerciais, Jose W. Fernandez, vieram ao Brasil para promover associações de empresas dos dois países no setor de energia.

Já em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi assediado pelo subsecretário de Estado para Assuntos de Economia, Energia e Agricultura dos EUA, Robert Hormats, influente burocrata de Washington e na época envolvido nos preparativos da visita de Obama. Lembrando o interesse de empresas americanas como IBM e GE, Hormats sondou Coutinho sobre apoio conjunto dos dois governos a joint ventures entre empresas brasileiras e americanas, especialmente nos investimentos em energia e petróleo. Coutinho avisou que há interesse do BNDES em apoiar iniciativas assim, mas só se essas associações envolvessem transferência de tecnologia e encomendas à indústria brasileira.