Título: Bancos se unem para disputar as grandes fortunas
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 21/06/2006, Finanças, p. C4

O aumento do número de milionários no mundo está provocando uma forte movimentação entre as instituições financeiras que mantém departamentos dedicados a este público, os chamados "private banking" e "wealth management" - ou simplesmente gestão de fortunas. Uma pesquisa realizada pela Economist Intelligence Unit (ligada à revista The Economist), encomendada pela firma de consultoria internacional KPMG, revelou que as fusões e aquisições no segmento de Private Banking e Wealth Management atingiram o número recorde de 258 acordos em 2005, um aumento de 80% em relação ao ano anterior.

Nelson Perez/Valor David Bunce, presidente da filial brasileira da KPMG: "Bancos estão de olho nesse segmento" Em sua terceira edição, o estudo se baseou em entrevistas com 147 bancos em todo o mundo, três deles brasileiros. As aquisições nos mercados domésticos são a maioria (78% das operações em 2005). Em volume financeiro envolvido, a média ficou em US$ 103 milhões (excluindo os cinco maiores), valor constante em relação a 2004.

Mas em número de operações individuais, a maior parte (45%) ocorreu no continente asiático, o que, de acordo com o relatório, está relacionado ao "aumento das fortunas pessoais" na região (leia texto abaixo). Considera-se milionário aquele que tem patrimônio líquido para investimentos acima de US$ 1 milhão.

Os bancos norte-americanos são mais ativos na busca por aquisições do que os europeus e asiáticos e 89% dos entrevistados declararam estar em busca de uma boa oportunidade para futuras aquisições. Europa Oriental e China são vistas como as áreas com o maior potencial de crescimento no setor, de acordo com o relatório da KPMG.

Segundo David Bunce, presidente da filial brasileira da KPMG, o número de milionários no mundo tem avançado nos últimos dez anos como resultado do crescimento econômico global. "E os bancos estão de olho nesse segmento", diz Bunce, destacando que, pela pesquisa, a "área geográfica" mais dinâmica é a Ásia, onde aconteceu o maior número de operações.

As fusões e aquisições de bancos voltados à gestão de fortunas são menores na América Latina e na Europa Oriental, onde, segundo Bunce, "os consumidores típicos do private banking preferem alocar seus recursos em grandes instituições internacionais, por desconfiança das nacionais após décadas de instabilidade".

Especialmente no Brasil, diz o presidente da KPMG, os bancos enfrentam um enorme desafio na concorrência com os estrangeiros para atrair o dinheiro dos milionários locais. Ele prevê que nos próximos anos haverá uma "consolidação" do private banking no Brasil, com alguns bancos vendendo suas carteiras e saindo do mercado. Isso porque, diz, o private banking é um tipo de serviço que exige escala (no mínimo mil a dois mil clientes) para dar lucro e muitos bancos brasileiros operam com "bem menos que isso".

"Para você oferecer esse tipo de serviço é preciso uma estrutura mínima, que custa caro", afirma Bunce. Faz parte da estrutura mínima uma boa área de "research" (pesquisa de mercado), gerentes de contas especializados e analistas capazes de atender endinheirados exigentes e conhecedores do mercado financeiro internacional, que pedem para aplicar seu dinheiro em ativos diferenciados como o mercado futuro de commodities ou ações de setores específicos.

A pesquisa da KPMG também mostrou que há um lado negativo na tendência de fusões e aquisições de bancos especializados em grandes fortunas. Muitos negócios não foram fechados por frustração nas "expectativas de preço dos vendedores" e 39% dos entrevistados afirmaram ter perdido mais de 10% da base de clientes da companhia adquirida, um ano após a aquisição.