Título: Indústria brasileira de máquinas quer aumentar vendas para China
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2006, Brasil, p. A2

Cansada de ver o mercado brasileiro invadido por exportações chinesas, a indústria de máquinas e equipamentos vai contra-atacar em território inimigo. A Abimaq, entidade que representa o setor, acaba de inaugurar um escritório em Pequim. A idéia é ficar mais perto dos clientes chineses para aumentar as vendas de máquinas para a China.

Em 2005, os chineses importaram US$ 53 bilhões em máquinas e equipamentos. O Brasil vendeu US$ 225 milhões para eles, o que representou apenas 0,42% das compras da China. Para o presidente da Abimaq, Newton de Mello, o maior entrave ao intercâmbio não é o câmbio valorizado ou outra variável macroeconômica, mas o desconhecimento dos produtores brasileiros do mercado chinês.

"Os empresários não sabem para quem vender e nem como chegar aos compradores. Sem contar que o país tem uma cultura diferente, outra língua e outras regras comerciais", explica Mello. Além disso, lembra que a China não fabrica de tudo e precisa tanto de máquinas como de componentes.

Mello considera que as atuais trocas comerciais entre China e Brasil estão muito fracas. "Outros países como Itália, Alemanha e Japão estão aproveitando a forte demanda chinesa e exportando mais máquinas para lá, enquanto o Brasil tem perdido muitas oportunidades", avalia. Para ele, as máquinas brasileiras têm tecnologia e preços competitivos com o mercado internacional.

Nas trocas comerciais de máquinas e equipamentos com todos os países do globo, a China é deficitária. Em 2005, o saldo da balança chinesa desses produtos foi negativo em 40,86%. Com o Brasil, ela obteve um saldo de nada menos do que US$ 45,18 milhões, o que representou um saldo de 376%. Em 2004, o cenário foi mais favorável para o Brasil e os chineses tiveram déficit de US$ 16,33 bilhões.

Os dados também mostram que o intercâmbio comercial da China com os compradores brasileiros é mais intenso do que com o resto do mundo. Em 2005, na comparação com o ano anterior, houve um crescimento de 38,92% nos valores importados pela China do Brasil. Foi um resultado muito superior às importações chinesas de todos oa países, que cresceram só 0,78% nesse período. Os números estão no livro "China e seu efeito sobre a indústria de máquinas e equipamentos no Brasil", escrito pela economista Patricia Marrone para Abimaq e lançado ontem.

Em 2005, somente cinco setores do país conseguiram aproveitar o crescimento chinês, segundo o estudo: fundição, máquinas para couro, mineração, equipamentos pesados e máquinas agrícolas. Além do Brasil ter conseguido exportar para a China, esse país também teve dificuldade de penetrar no mercado brasileiro nessas áreas.

Segundo Patrícia, esses são setores com forte potencial, pois a China tem investido muito em infra-estrutura e na produção de calçados. "Há também escassez de terras agricultáveis e, com uma população enorme, a necessidade de máquinas para o setor de alimentos e agricultura é muito grande", explica a economista.

A estrutura do escritório em Pequim será enxuta: dois profissionais para auxilar os brasileiros na prospecção de clientes e fornecedores e na prestação de serviços de advocacia, nos casos de desrespeito à propriedade intelectual.