Título: Argentina estuda antecipar para março a eleição presidencial
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2006, Internacional, p. A9

A provável candidatura do ex-ministro da Economia Roberto Lavagna à Presidência pode provocar mudanças no calendário eleitoral do país, com um possível adiantamento para março das eleições previstas para outubro.

A hipótese foi levantada no fim de semana, paralelamente ao aumento dos sinais de que Lavagna pretende mesmo disputar a Presidência. "Parece-me que [as eleições] devem se realizar quando se cumpram os quatro anos de governo", disse o ex-chanceler Rafael Bielsa ao jornal argentino "Perfil". A publicação veiculou no domingo uma reportagem sobre o assunto, afirmando que o governo já está fazendo consultas junto à Justiça para avaliar a possibilidade de mudar o calendário eleitoral.

Kirchner assumiu em maio de 2003, substituindo a Eduardo Duhalde. Este, por sua vez, chegou à Presidência em janeiro de 2002, eleito pelo Congresso. Duhalde teria de terminar o mandato de Fernando de la Rúa, que duraria até dezembro de 2002, mas adiantou as eleições por causa de distúrbios ocorridos durante o seu governo.

Com isso, foi aprovada uma lei para ampliar o mandato do sucessor, o que permitiria a Kirchner governar quatro anos mais o período final do mandato de Duhalde.

Bielsa, que é deputado governista, disse considerar inconstitucional a mudança na lei que prolongou o mandato de Kirchner. Sobre a realização do pleito em março, disse que "não é que se vá adiantar, mas é que não se pode postergá-la além de março de 2007".

As declarações de Bielsa sugerem que o governo poderia antecipar as eleições caso Lavagna oficialize sua candidatura, suba nas pesquisas e possa ameaçar a Kirchner. Uma pesquisa por telefone da consultoria Ceop, divulgada no final de semana, indica que esse cenário ainda parece distante. Segundo a pesquisa, Kirchner tem 54,5% das intenções de voto, contra apenas 8,5% de Lavagna. À frente do ex-ministro aparecem o presidente do Boca Juniors, Mauricio Macri, com 11,3%, e a deputada esquerdista Elisa Carrió, que teria 10,5%.

Lavagna vem se posicionando como candidato de centro e conta com o apoio do ex-presidente Raúl Alfonsín, da União Cívica Radical (UCR), e de setores do peronismo ligados ao ex-presidente Duhalde. Ontem, o ex-ministro criticou a proximidade de Kirchner com o presidente populista da Venezuela, Hugo Chávez.