Título: Produtor adia compra de sementes
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2006, Agronegócios, p. B13

A Fundação Meridional de Apoio à Pesquisa Agropecuária reúne 66 produtores de sementes e comercializa variedades de soja e trigo para a região Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul. A fundação disponibiliza desde maio 4 milhões de sacas de sementes para a safra 2006/07 mas, diferentemente do que ocorreu em anos anteriores, não houve procura pelos agricultores até agora.

"Havia uma expectativa de que, com o anúncio do novo Plano de Safra, os produtores iriam comprar sementes. Mas o mercado está parado em função da crise", afirma Geraldo Fróes, presidente da Fundação Meridional. Ele diz que o nível de investimentos de R$ 2 milhões por ano no desenvolvimento de sementes se mantém, mas este ano a fundação lançou só uma variedade de soja de ciclo precoce.

Edvaldo Gondo, supervisor de vendas da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), também diz que a comercialização de sementes está bem mais lenta. "O volume de vendas a ser alcançado este ano é uma incógnita. Pela demora, é provável que o produtor reduza a área, mas ainda não dá para medir quanto", afirma Gondo.

A preocupação das empresas reflete o cenário traçado pelo setor sementeiro, principalmente para a soja. Segundo Ivo Carraro, diretor de pesquisa e produção da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem) e presidente da Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov), as indústrias esperam redução da área de soja para 21 milhões de hectares no ciclo 2006/07.

As vendas de sementes, que em junho de 2005 chegavam a 20% do total previsto para a safra, este ano estão praticamente paradas. "O que há é alguma troca de semente por grão já colhido ou que será entregue na outra safra", diz Carraro. Ele observa que as indústrias já reduziram os preços para estimular as vendas de sementes, mas ainda não houve sucesso na estratégia.

A expectativa da Abrasem é de produção suficiente para o cultivo de 21 milhões de hectares de soja (em torno de 21 milhões de sacas). Desse total, a participação das sementes transgênicas vai crescer de 42% para 60% - saindo de 9,4 milhões para 12,6 milhões de hectares. O número inclui sementes ilegais. Segundo Carraro, a oferta de sementes legais transgênicas vai passar de 3 milhões para 7 milhões de sacas e a de ilegais vai cair de 6,4 milhões para 5,1 milhões de sacas.

Carlos Arrabal Arias, pesquisador da Embrapa Soja, diz que hoje os produtores buscam sementes de preço mais baixo, mais resistentes às intempéries e que sobrevivam à ferrugem. "Um movimento que se nota é a substituição das sementes de ciclo longo [acima de 120 dias] por sementes precoces ou de ciclo médio", afirma. O motivo é que, como essas variedades ficam menos tempo no campo, ficam menos expostas ao fungo e demandam menos aplicações de defensivos. A Embrapa desenvolve uma variedade de soja resistente à ferrugem, que deve chegar ao mercado em dois ou três anos.

Alexandre Nepomuceno, da Embrapa Soja, observa que outra tendência é de demanda por sementes resistentes à seca. A estatal desenvolve com o Jircas (instituto de pesquisa do Japão) uma soja tolerante à seca. A Embrapa pedirá à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a liberação para testes de campo em agosto.