Título: Dirigente do PT lidera depredação do Congresso
Autor: César Felicio, Paulo Emílio e Caio Junqueira
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2006, Especial, p. A14

Amigo de Lula, o coordenador geral do MLST, Bruno Maranhão, 65 anos, é um petista com larga tradição de militância no partido. Até ontem, Maranhão era secretário nacional de movimentos populares do PT. Integra a executiva como um remanescente da corrente "Brasil Socialista", que apoiou o ex-deputado Plinio de Arruda Sampaio na eleição interna do PT no ano passado e saiu da sigla para formar o P-SOL.

Descendente de uma família tradicional na política de Pernambuco, Maranhão foi fundador do PT e candidato do partido ao Senado em 1982. Ao lado do maranhense Manoel da Conceição, Maranhão era o único elo do PT com os movimentos rurais no início dos anos 80, uma fase onde o MST ainda não existia. Nunca deixou de fazer parte do Diretório Nacional da sigla. Integrou a ala do partido egressa da luta armada: quando era estudante de engenharia, Maranhão militou no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Exilou-se no Chile e na França. Retornou clandestino ao Brasil, em 1978.

Crescido na Zona da Mata, onde se concentra a produção canavieira, ele se recusou a assumir o comando da usina Liberdade, pertencente a seu pai. Se disse comunista e que jamais poderia chefiar uma empresa sucroalcooleira. Depois da eleição de 1982, Maranhão foi presidente do PT de Pernambuco por três anos, até transferir-se para São Paulo organizar o MLST e voltar para seu Estado.

O MLST estava procurando a sua institucionalização antes dos eventos de ontem. No final do ano passado, Maranhão foi recebido por Lula em uma audiência de duas horas, junto com o então ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto e o secretário-geral da Presidência, Luiz Soares Dulci, para apresentar ao presidente um projeto de fomento a empresas agrícolas comunitárias.

Este ano, o MLST pediu para ser aceito como integrante da Coordenadoria dos Movimentos Sociais, o foro formado pela CUT, MST, movimentos feministas, da raça negra, de pequenos agricultores e todos os grupamentos que fazem pressão, mas não oposição ao governo federal. O pedido será examinado na próxima reunião do organismo. "Aceitamos os movimentos de acordo com a sua representatividade e da adequação de suas propostas", afirmou o sindicalista Antonio Carlos Spis, representante da CUT na Coordenadoria.

Com os eventos de ontem, a primeira reação dos movimentos sociais foi de cautela. "Repudiamos qualquer violência. Mas a luta pela concretização de direitos sociais não pode se desligar de atos de mobilização e a Câmara dos Deputados precisa ser um espaço pluralista. Temos que verificar as circunstâncias ", disse Spis.

Fundado em 1997 por lideranças rurais dissidentes do MST, agentes pastorais da Comissão Pastoral da Terra, no Triângulo Mineiro, o MSLT já passou por um racha e não é mais o movimento mais radicalizado no campo. Em 2000, a parte mineira do movimento criou o MLST de Luta, defendendo a tomada do poder pela força e a socialização da propriedade rural privada. Já o MLST procurou aproximar-se do governo federal, em linha próxima ao MST.

A disputa por espaço com o MST é literal: em 2005, os dois movimentos travaram um confronto físico pela invasão da fazenda Riachão, em Joaquim Gomes (AL), envolvendo 160 famílias e que terminou com um ferido à bala e a expulsão do MST da área. O MST não comentou os eventos de ontem.

A principal característica que o diferencia do maior movimentos dos Sem Terra é a hierarquia administrativa. Ao contrário do MST, onde as decisões são tomadas sempre de maneira coletiva, no MSLT uma cúpula toma as decisões e a base as coloca em prática, como as inúmeras invasões que o movimento fez nos últimos anos. Segundo militantes de Pernambuco, o MLST hoje só mostra vitalidade maior que a de seu rival na zona agreste do Estado, onde possui um grande acampamento.

Embora as imagens de ontem tenham impressionado a opinião pública, não foi a primeira vez que o movimento invadiu um órgão público. Em abril de 2005 invadiu o Ministério da Fazenda, em protesto contra contra o corte de verbas do Orçamento para a reforma agrária. No mês passado, foi a vez de uma agência do Banco do Nordeste em Alagoas. Queriam agilidade na liberação de recursos do Pronaf.

Propriedades rurais ligadas a autoridades também são alvo do movimento. Em março invadiram a fazenda Carambola, em Prata (MG), cuja proprietária é mulher do secretário de Desenvolvimento Social e Esportes de Minas Gerais, Marcos Montes. A medida era para pressionar o governo estadual e a prefeitura a liberarem recursos para o movimento. (Colaborou Cristiane Agostine, de São Paulo)