Título: CPI dos Bingos vai propor indiciamento de Palocci por denúncias de Ribeirão
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 31/05/2006, Política, p. A6

A "República de Ribeirão Preto", como é batizado o grupo ligado ao ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, deverá ter seu indiciamento sugerido pelo relatório final da CPI dos Bingos. As denúncias de corrupção relacionadas à assinatura de contratos para a varrição da cidade serão o ponto de partida do relatório final no enquadramento dos envolvidos. Segundo o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator da comissão, Palocci estará na lista de indiciamentos.

Além do ex-ministro da Fazenda, Vladimir Poleto e Rogério Buratti, autor das denúncias contra Palocci, estão entre os indiciados. Jucelino Dourado, Ademirson Ariovaldo - o assessor pessoal do ex-ministro -, além do empresário Roberto Carlos Kurzweil podem constar da lista de indiciamentos. "Alguns podem ser pincelados e ficarem de fora. Mas 90% da República de Ribeirão serão indiciados", afirmou Garibaldi, ao Valor, na tarde de ontem.

A denúncia original é de que Palocci teria recebido R$ 50 mil mensais entre 2001 e 2002, período no qual administrava Ribeirão Preto. O pagamento partiria da empresa Leão Leão, supostamente beneficiada no contrato de lixo firmado com o município. A dinheiro serviria para abastecer o caixa 2 do PT. A partir de 2003, a "República de Ribeirão" se instalou em uma casa em Brasília, onde Palocci, já ministro da Fazenda, teria sido visto. A mansão era utilizada para lobbies junto ao governo federal e todos os citados freqüentavam a casa, segundo as apurações da CPI. O caseiro da residência, Francenildo Costa, depôs à CPI e revelou ter visto Palocci no local. O depoimento resultou na quebra ilegal de seu sigilo bancário e levou à queda de Palocci.

Sobre o caso da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002, diversas versões já surgiram para a morte do petista e a CPI apontará para um possível crime político. "Diremos que pode ter sido um assassinato encomendado em função das circunstâncias na época do crime", afirmou Garibaldi, que reconheceu não haver indícios para confirmar que a morte fora encomendada. "Essa é uma função da polícia", disse.

O chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu serão citados no episódio. Teriam camuflado responsabilidades pelo crime. Mas o tratamento a ser dado aos dois, segundo Garibaldi, ainda está em estudo. "Com relação a Gilberto Carvalho, ainda não exaurimos o julgamento sobre ele", afirmou o relator. O mesmo raciocínio vale para Dirceu. Tanto Carvalho quanto o ex-ministro são apontados como articuladores de um suposto esquema de propina em Santo André para alimentar o caixa 2 do PT. Os dois negam as acusações de forma veemente.

A CPI deverá ter perto de 85 indiciados. A comissão já havia indiciado 35 pessoas em função das irregularidades encontradas nas negociações e na assinatura do contrato da multinacional GTech com a Caixa Econômica Federal para a gerência de loterias. Ontem, o relator apontou que mais 50 devem entrar na lista, pelo menos.

A apresentação do relatório, previamente marcada para amanhã, foi adiada para a próxima quarta-feira. Oficialmente, o atraso se deve à dificuldade na redação do texto final. Mas as disputas entre governo e oposição e a necessidade de se negociar ainda mais a redação final do documento levou à necessidade de conseguir alguns dias a mais para as articulações.

Com a disposição do relator em indiciar petistas envolvidos em denúncias de corrupção em Ribeirão Preto e em Santo André, o embate promete ser forte na CPI. Os governistas não admitem qualquer indiciamento sem conexão direta com os bingos. "Não vamos nos ater a detalhes. Mas exigiremos foco nas questões que envolvem bingos", afirmou o senador Tião Viana (PT-AC), escolhido pelo governo para negociar o relatório na CPI.

O governo não descarta apresentar relatório paralelo e tentar aprová-lo na comissão, onde tem maioria frágil. Com a revelação de Garibaldi de que vai pedir os indiciamentos, as chances de surgir um relatório alternativo se ampliam. A proteção a Gilberto Carvalho e Dirceu no caso de Santo André são consideradas como inegociáveis pelo governo.

A oposição tem duas armas para forçar a aprovação do relatório com os indiciamentos de petistas. Ameaça com a prorrogação da comissão até outubro e com a convocação de Dirceu, já aprovada pelo plenário da CPI e apenas no aguardo de definição de data pelo presidente da comissão, Efraim Moraes (PFL-PB). O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) já iniciou as conversas com o governo para tentar aprovar um texto final logo. "Conversei com o Tião e disse a ele que é legítimo fazer um relatório paralelo, mas que não tente ganhar em tudo que não é possível", afirmou o tucano. Ontem, a ex-mulher de Rogério Buratti, Elza Buratti, depôs na CPI mas nada acrescentou. "Ela claramente protegeu o ex-marido", analisou Garibaldi.