Título: Crédito deve reagir à ação do BC ainda este ano
Autor: Lima ,Aline
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2011, Finanças, p. C3

A experiência recente mostra que as medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central (BC) surtiram efeito no sistema de crédito assim que foram anunciadas. Nada mais natural, portanto, que as novas concessões a pessoas físicas respondam, também de imediato, à revisão dessas mesmas regras, promovida na última sexta-feira.

"O afrouxamento na exigência de capital dos bancos pode dar um suporte às linhas de comércio e de financiamentos a veículos já em novembro e dezembro", diz Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências. Suas projeções para as concessões de crédito a pessoas físicas apontam para um crescimento de 7,4% em 2011 contra 2010. Para 2012, o desempenho estimado já é bem melhor - alta de 9,5% ante 2011 -, em boa parte graças a esse alívio no requerimento de capital das instituições financeiras.

Sob o peso das regras macroprudenciais, adotadas em dezembro do ano passado, as concessões de crédito para pessoas físicas recuaram 1,2% naquele mês contra o anterior, novembro. Em janeiro deste ano, o impacto foi ainda maior: queda 5,2% ante dezembro de 2010, de acordo com os dados da Tendências, livres de efeitos sazonais.

Na avaliação de Décio Carbonari, presidente do Banco Volkswagen, haverá, de saída, uma quebra na tendência de desaceleração das novas concessões para veículos. "As vendas de fim de ano vão melhorar porque as condições serão facilitadas, mas o desejo do consumidor de comprar um carro já foi maior", pondera Carbonari. "O cenário hoje não é o de um ano atrás e a perda de poder aquisitivo é uma realidade."

O nível de exigência de renda vai cair rapidamente, assegura o executivo, que também preside a Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras (Anef). "Podemos estimar, de imediato, uma queda ao redor de 10%", avisa. Ou seja, se até a semana passada a renda necessária para fechar o financiamento de um determinado carro era de R$ 2,4 mil, em breve passará para R$ 2,2 mil. Não é o mesmo patamar de antes das medidas macroprudenciais, pois as regras antigas fizeram com que a exigência de renda para o financiamento de veículos subisse em torno de 20%. "Mas o juro e a inadimplência também estão em patamares diferentes", justifica.

As medidas macroprudenciais estabelecidas em dezembro do ano passado também retiraram do mercado de automóveis, segundo Carbonari, 15% de potenciais tomadores de financiamentos - cálculo feito com base num histórico dos últimos cinco anos. "Uma parte considerável voltará às compras, mas não podemos prever em qual velocidade." As vendas financiadas representam, neste ano, 62% do total dos carros novos vendidos.

O Banco do Brasil (BB) fez as contas e ganhou 0,46 ponto percentual de índice de Basileia, equivalente a R$ 2,3 bilhões de capital, só com o ajuste promovido pelo BC no cálculo do patrimônio de referência dos bancos, que tem efeito retroativo. Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente novos negócios e varejo do BB, espera um incremento "significativo" dos financiamentos a veículos neste fim de ano, época tradicionalmente positiva para a modalidade.

"Sem sombra de dúvida, as novas medidas ajudarão o Votorantim a retomar sua capacidade de financiamento, trazendo resultados positivos", ressaltou Caffarelli. O Banco Votorantim, no qual o BB detém 50% de participação e tem forte atuação em veículos, registrou prejuízo de R$ 85 milhões no terceiro trimestre deste ano, ante um lucro de R$ 266 milhões em igual período de 2010.