Título: Bolívia quer que Brasil pague mais que Argentina pelo gás
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 30/06/2006, Brasil, p. A2

A Bolívia pretende negociar um preço de venda de seu gás ao Brasil mais alto do que o acertado com a Argentina, e o presidente boliviano, Evo Morales, quer reunir-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar fechar um acordo sobre o tema. "Necessitamos um encontro com o presidente Lula", pediu Morales em entrevista na Argentina após assinar, com o presidente argentino, Néstor Kirchner, um acordo para o fornecimento de gás à Argentina, que pagará US$ 5 por milhão de BTU, a unidade usada como referência no comércio do fluido.

O ministro de Hidrocarbonetos boliviano, Andrés Soliz Rada, disse que o preço pretendido pela Bolívia é de US$ 7,5 por milhão de BTU, mais uma taxa de US$ 0,50 que chamou de "ajuste ecológico", que elevaria o valor a US$ 8. Soliz Rada justificou o valor porque este seria o "preço de mercado" pago pelo gás boliviano no Sudeste brasileiro. O ministro não explicou a razão da cobrança do "ajuste ecológico" nem em que consistiria a taxa.

Segundo Soliz Rada, o preço inicial proposto pela Bolívia na negociação com a Argentina foi de US$ 5,50, mas pôde ser reduzido porque os argentinos teriam se comprometido a fazer investimentos em instalações industriais para realizar a separação de líquidos do gás. Outro fator que justificaria o preço para a Argentina, segundo ele, é a distância menor entre os poços e os locais de consumo.

Ontem à noite a Petrobras divulgou nota na qual afirma que, em reunião em La Paz, tomou conhecimento formal dos argumentos da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) para a revisão da cláusula de preços do contrato de compra e venda de Gás Boliviano (GSA). Segundo a estatal, foi acertado um cronograma de negociações para o próximo mês com o objetivo de concluir as discussões dentro do prazo contratual de 45 dias.

Na visão da Petrobras, os aumentos de preço que vêm ocorrendo regularmente na forma prevista em contrato, a exemplo do ocorrido esta semana, são suficientes para garantir o equilíbrio econômico-financeiro da operação. A companhia informou, porém, que realizará estudos mais detalhados antes de comunicar formalmente sua resposta à YPFB. A próxima reunião entre as empresas será na semana de 10 a 14 de julho, em Santa Cruz de La Sierra.

O preço pactuado entre a Bolívia e o governo argentino representa um aumento de 56% em relação aos valores cobrados anteriormente pelo gás boliviano, de US$ 3,20 por milhão de BTU. O acordo prevê que o valor de US$ 5 será mantido até dezembro deste ano, quando um novo preço será negociado. A variação dependerá da evolução dos valores internacionais dos combustíveis e de projetos de expansão do fornecimento do gás boliviano que os dois governos pretendem colocar em prática.

Atualmente, a Argentina pode importar até 7,7 milhões de metros cúbicos diários de gás da Bolívia, equivalentes a menos de 5% do consumo nacional, e o objetivo dos dois países é ampliar a capacidade de transporte para chegar a 20 milhões de metros cúbicos.

O gás boliviano tem importância pequena em relação ao consumo total, mas o acordo fechado ontem é importante para que a Argentina evite problemas no abastecimento, já que o consumo vem crescendo e a produção doméstica de gás está em queda. (Colaborou Francisco Góes, do Rio)