Título: Vacina contra o apetite do PMDB
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 26/08/2010, Política, p. 4

Emcaso de vitória de Dilma nas urnas, petistas pretendem ficar coma articulaçãopolítica do governoemvez de deixá-la nasmãos de Temer. Palocci é umdos nomes para o cargo

Com o conhecido apetite do PMDB por espaço e cargos surgindo em plena campanha eleitoral, o PT prepara uma vacina e umcontraataque.

A gestação da futura Presidência da República, desenhada para ser mais forte do que a administrada por Luiz Inácio Lula da Silva, passa agora sobre como será a articulação política do governo. Se Dilma for eleita, está decidido que o cargo ficarácomo PT e o responsável pela tarefa será um nome experiente, umnegociador com capacidade de tratar com todos os partidos. Perfil que só se iguala no atual governo, quando José Dirceu executava essa função na Casa Civil no começo do primeiro mandato.

A opção por um nome forte é um contraponto ao deputado Michel Temer (PMDB-SP), que, caso eleito vice-presidente, terá também um papel de articulador político. O PT não quer que seu principal aliado tome conta dessa aérea. Por isso integrantes da legenda dizem que o ex-ministro Antonio Palocci se encaixaria como uma luva nesse papel de negociar os interesses dos congressistas, prefeitos e governadores.

Palocci aparece nas conversas como um exemplo do perfil ideal para equilibrar o papel deTemer.

OCorreio mostrou há duas semanas que Dilma planeja ter assessores especiais de Assuntos Econômicos e para Segurança Pública que se reportam ao Planalto.

ACasa Civil deumeventual governoDilma deverá terumperfil técnico para tocar os principais projetos e dificilmente voltará a ficar com a responsabilidade de fazer as conversas políticas.Nesse cenário, sai fortalecida a Secretaria de Relações Institucionais, que, para abrigar um político de peso, pode ter novas atribuições.

Existeumainvestida contraPalocci de fora para dentro da campanha deDilma.Uma das fontes é o ex-ministro José Dirceu, o primeiroa ventilarqueseu antigo colega de governo não teria o perfil adequado para a Casa Civil. Além disso, existem petistas que não o querem numa função econômica novamente e o empurram para uma tarefa política. Umdos nomesparaumcargo da equipe econômica, como oMinistério do Planejamento, éNelson Barbosa, secretário de Política Econômica doMinistério da Fazenda.

O secretário de Comunicação do PT, André Vargas, nega que a campanha esteja pensando em abrir discussão de cargos. Ele admite, no entanto, que o PT terá papel na articulação política. O PMDB vai ter um papel, mas nós temos o direito de ter papel também, afirmou. O deputadoMauro Lopes (PMDB-MG) considera natural que Temer assuma a função de articulador, levando-se em conta a experiência que o deputado paulista tem ao administrar a Câmara e o maior partido do país. Ele vai ter que fazer isso enquanto ela toca o governo, afirmouo parlamentar.

Agenda Ontem, ao participar de carreata em Rondonópolis (MT), Dilma passou malcomo forte calor e interrompeu o percurso depois de meia hora. Dilma seguiu para Cuiabá, onde criticou a postura de seu adversário José Serra (PSDB) por tentar, como na eleição de 2002, imputar no PT a campanha do medo. A Câmara Municipal de São Paulo aprovou na terça-feira um projeto que concede o título de cidadã honorária à candidata do PT à Presidência da República. Apenas os vereadores do PSDB votaram contra a concessão da honraria.

Repercussão no exterior

Umavitória retumbante. É assim que o jornal econômico britânico Financial Times classifica a possibilidade da candidata do PT, Dilma Rousseff, chegar ao Palácio do Planalto, baseado nas recentes pesquisas de intenção de votos.

Em artigo publicado em seu blog na última terça-feira, Jonathan Wheatley, o correspondente do periódico em São Paulo, escreve que ainda faltam 40 dias e muita coisa pode mudar na corrida eleitoral.

Mas no presente é difícil imaginar qualquer outro resultado do que uma vitória retumbante na corrida presidencial para Dilma Rousseff, consta do artigo.

Wheatley também critica o candidato do PSDB, José Serra.

A campanha está confusa. Parece que ele está concorrendo comumúnico tema: suas conquistas como ministro da Saúde há uma década e seus investimentos como prefeito e governador de São Paulo. Ele usa tempo valioso para acusar EvoMorales de traficar cocaína para o Brasil, o PT de ter ligações com as Farc na Colômbia e o governo de censurar a imprensacom certeza uma das menos censuradas do mundo, escreveu o jornalista.

Nada disso tem a ver com seu programa de governo. Na verdade, é difícil saber qual é o programa dele. Deveria ser continuar a reforma do Estado brasileiro iniciada nos anos 1990 por seu colega de partido, Fernando Henrique Cardoso, completou. (TP)