Título: Atividade corrói a renda e contém o emprego
Autor: Martins , Arícia
Fonte: Valor Econômico, 28/10/2011, Política, p. A6

O mercado de trabalho reagiu à desaceleração da economia brasileira e mostrou sinais de enfraquecimento em setembro. A taxa de desemprego ficou estável (ou recuou, considerando efeitos sazonais) e a renda caiu expressivo 1,8% na comparação com agosto nas seis regiões metropolitanas acompanhadas na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A estabilidade da taxa de desemprego em 6% no mês passado, mesmo patamar de agosto e julho, surpreendeu os economistas, que esperavam uma taxa mais baixa devido às contratações de fim de ano. Feitos os ajustes sazonais, o indicador registrou alta, passando de 5,9% em agosto para 6,2% em setembro, pelos cálculos da Link Investimentos, e 6,1% pelas contas do Credit Suisse, que esperava uma taxa de 5,7% em setembro.

O aumento da desocupação, segundo o economista Thiago Carlos, da Link, deve-se principalmente à indústria e ao comércio, que no período fecharam 43 mil e 66 mil vagas, respectivamente. "Há um excesso de estoque nas fábricas. As empresas não estão conseguindo vender tudo que já foi produzido", explica Carlos. Ele avalia que a taxa de desemprego com ajuste sazonal vai subir nos próximos meses, mas de forma gradual.

Embora veja o fechamento de postos de trabalho como algo atípico, Cimar Azeredo, do IBGE, não demonstra preocupação com o dado. "A queda mensal não foi significativa", afirma. Para caracterizar uma tendência positiva ou negativa do emprego na indústria e no comércio, diz ele, será necessário aguardar outras pesquisas.

Apesar da queda no total de ocupados, Azeredo ressalta que houve aumento de 0,3% no número de carteiras assinadas no setor privado em setembro frente a agosto e de 6,7% na comparação com o mesmo mês do ano passado. "Isso mostra que os empregos gerados estão sendo de qualidade. O mercado de trabalho continua avançando", avalia.

Outro sinal de alerta para os economistas foi a redução de 1,8% no rendimento médio real habitual entre agosto e setembro. A queda foi generalizada, com retração de 1,5% na indústria e uma perda mais expressiva nas áreas de educação e saúde (menos 5,2%). Além da queda mensal, o rendimento também parou de subir na comparação com 2010, depois de quatro meses seguidos de renda real subindo acima de 3%. Essa contração, dizem os economistas, vai afetar a atividade.

Fabio Romão, da LCA Consultores, chama a atenção para o fato de que a expansão do setor de serviços (que ainda não havia recuado como na indústria) vinha sendo sustentada pelo forte aumento da renda. "Apesar da alta base de comparação, a rapidez dessa desaceleração fortalece nossa hipótese de que a perda de vigor no setor de serviços - que acontece com cerca de um ano de defasagem em relação à indústria - não será pontual", analisa Romão. Ele acredita, contudo, que a desaceleração em serviços será menos intensa que a da indústria.

A diminuição no ritmo de crescimento dos ocupados - que na comparação com 2010 baixou de 2,2% em agosto para 1,7% em setembro - e a "freada brusca" no avanço do rendimento médio real dos trabalhadores evidenciam o esfriamento do mercado de trabalho e exigem medidas mais "drásticas" do Banco Central, opina o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. Para ele, a perda de fôlego no emprego é suficiente para que a autoridade monetária reveja a estratégia de ajustes graduais na taxa básica de juros (Selic), passando a promover cortes mais intensos que o 0,5 ponto percentual feito nas duas últimas reuniões.

Segundo o analista, a retração na renda é reflexo tanto de uma inflação maior no período, que corroeu os salários, como da desaceleração da atividade, que diminuiu o ganho nominal dos ocupados.

Apesar da resposta mais rápida que o previsto do mercado de trabalho à desaceleração da economia, não é esperado um aumento alarmante no desemprego para o próximo ano. "Acreditamos que em 2012 a desocupação pode aumentar até 6,5%, o que não é de todo ruim, pelo contrário. Se subir de forma moderada, ajudará a segurar pressões renitentes na economia, como a inflação de serviços", sustenta o economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos.