Título: Boas perspectivas para sementes de hortaliças no país
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 26/06/2006, Agronegócios, p. B12

O mercado de sementes de hortaliças vive um momento de efervescência no país. As indústrias de sementes aceleram o lançamento de variedades mais produtivas, resistentes a doenças e enriquecidas com vitaminas. Tudo para satisfazer novas exigências de produtores, de redes varejistas e do consumidor final.

Algumas das maiores empresas do segmento reforçam investimentos em pesquisa e na estrutura de unidades. A brasileira Agristar, que detém 30% de participação de mercado, acaba de inaugurar sua terceira unidade experimental. Fruto de um investimento próprio de R$ 1,5 milhão, a unidade localizada em Santo Antônio de Posse (SP) será utilizada para testes de campo e funcionará como um "showroom" para produtores do Sudeste.

A Agristar também investe nas unidades de Jaíba (MG), Mossoró (RN) e na reforma da sede, em Itaipava (RJ). Ao todo, os investimentos devem chegar a R$ 3 milhões, diz James Udsen, presidente da empresa. "A semente é o veículo da genética, assim como o CD é o veículo do software. Manter-se neste mercado requer muita tecnologia", afirma ele

Udsen observa que, de cada 2 mil sementes que a empresa testa por ano, apenas 30 são lançadas no mercado e, dessas, três se tornam sucessos comerciais. "As pesquisas levam de seis a dez anos até chegarem ao mercado e é difícil saber o que o consumidor vai desejar até lá", pondera.

A "bola de cristal" da empresa parece estar afinada com os desejos dos consumidores. Prova disso é o desempenho das vendas. A Agristar espera encerrar o ano com faturamento de pelo menos R$ 40 milhões, ante R$ 31 milhões o ano passado. No primeiro semestre, já acumula receita de R$ 22 milhões - cabe lembrar que o período mais aquecido de vendas de sementes de hortaliças ocorre no segundo semestre, para as safras de verão.

O crescimento, conforme Alexandre Oliveira, diretor comercial, é resultado da aposta da empresa em variedades de tomate mais resistentes a pragas e mais apetitosas ao paladar. "Em dois anos alcançaremos a liderança neste segmento", acredita Oliveira. Hoje, a empresa tem participação em torno de 10%, enquanto outras duas empresas detêm, cada uma, 30% de participação.

Desenvolver novas cultivares de tomate tornou-se prioridade para as empresas de sementes de hortícolas. Embora seja uma fruta, o tomate é considerado hortaliça por ser proveniente de uma erva. O mesmo ocorre com o melão e a melancia.

Estima-se que o mercado hortícola brasileiro movimenta por ano US$ 8 bilhões. O segmento de sementes gera por ano US$ 100 milhões. Desse total, um terço vem da venda de sementes de tomate, segundo Célio Espíndola, presidente da Câmara Setorial de Hortaliças do Ministério da Agricultura. Outros produtos de destaque são a cebola e a batata.

As empresas apostam principalmente nas variedades híbridas, que geram frutos de cor e tamanho padrozinados e têm maior produtividade. Para o produtor, elas significam mais valor agregado e custo mais alto: as sementes híbridas chegam a custar 80 vezes o valor de uma semente comum. Algumas sementes de tomate, por exemplo, custam R$ 70 mil por quilo.

A Seminis - líder em sementes de hortaliças controlada pela Monsanto - também investe no tomate. Recentemente, lançou uma variedade resistente ao geminivírus (principal praga que ataca as lavouras). "O produtor busca hoje hortaliças com alta produtividade e com resistência a doenças", observa André Hirano, coordenador técnico de desenvolvimento de produtos da Seminis.

A empresa também lançou variedades de pimentão, abobrinha e alface, todos com resistência a doenças. A Seminis trabalha com meta de crescer 12% no ano. O grupo fatura em torno de US$ 15 milhões por ano. No ano passado, a empresa investiu em laboratórios e na unidade experimental em Paulínia (SP).

Warley Nascimento, pesquisador da Embrapa Hortaliças, observa que algumas empresas também começam a apostar em alimentos funcionais. Recentemente, a Embrapa lançou variedades de tomate com alto teor de licopeno, uma batata doce enriquecida com vitamina A e uma cenoura com alto teor de carotenóides. As sementes têm tido sucesso, segundo ele. "A tendência é que o consumidor exija cada vez mais qualidades nutracêuticas."