Título: Semente certificada ganha espaço
Autor: De São Paulo
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2004, Especial Agronegócios, p. F5

Os cuidados para eliminar riscos na safra têm garantido a utilização intensa de tecnologia em todos os produtos envolvidos no plantio. O agricultor brasileiro está cada vez mais preocupado com a produtividade e, para não arriscar o investimento feito na lavoura, se rendeu de vez ao uso de sementes fiscalizadas e certificadas, que vêm acompanhadas de garantias de germinação, pureza, sanidade, vigor e até de assistência técnica. Quem resolveu investir na genética e no cruzamento de plantas faz parte de um mercado que faturou, em 2003, R$ 4,5 bilhões. "Nas culturas de soja, milho e trigo, cerca de 80% das sementes são certificadas. Não há razão para o produtor economizar no insumo mais barato da cadeia", afirma Ywao Miyamoto, presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem). Para ele, o agricultor enxerga a vantagem das sementes certificadas, que garantem produtividade até cinco vezes maior do que as sementes guardadas em casa. "A saúde da semente e a garantia de germinação são fundamentais para garantir uma boa safra. Não adianta investir milhões em fertilizantes se a semente não tiver qualidade", diz Miyamoto. Em culturas altamente competitivas como a de soja, o uso de sementes feitas a partir do cruzamento de plantas de boa qualidade faz a diferença. A prova disso é que a soja também lidera o consumo desse insumo. Da produção total de sementes certificadas no Brasil, 56,66% são destinados à soja, seguidas pelas de milho (12,19%), trigo (14,63%) e arroz (4,72%). Odílio Balbinotti Filho, diretor da Sementes Adriana, garante que a taxa de utilização de sementes certificadas de soja no Estado do Mato Grosso chega a 95%. "O custo de produção por hectare de soja no Brasil está entre US$ 350 e US$ 420, e desse total, o gasto com semente gira em torno de 8%, o que significa uma média de US$ 30 por hectare de soja. Para quem investe em adubo e preparo do solo, ter garantia que dez entre 11 sementes vão germinar é muito importante", destaca. O investimento nesse insumo se justifica quando, ao fazer as contas do plantio, o agricultor descobre que os custos fixos para a utilização de sementes certificadas são os mesmos quando comparados com as sementes convencionais. De calculadora em punho, o produtor pode prever o índice de produtividade de sua área a partir da escolha da semente. "Hoje conseguimos criar três variedades e o produtor pode escolher entre a semente de alto investimento, a de médio e a de baixo", diz Paulo Cau, diretor-comercial da Monsanto. Para produtores que têm o milho como segunda cultura, a utilização da semente média é mais indicada. O custo ficará em torno de R$ 150,00 por hectare. Já os que apenas vão plantar para subsistência, podem investir R$ 100,00 por hectare, comprando outra variedade. A idéia de ter na semente a garantia de uma planta forte criou uma expectativa sobre as variedades transgênicas, que podem ser mais eficientes no combate a pragas e resultar em lavouras mais produtivas. A diferença e motivo de discussões é que em vez de cruzar várias plantas para obter a melhor muda, a tecnologia de transgênicos inclui características das melhores plantas no DNA da que vai gerar a semente, podendo trazer mais garantias para a lavoura. Segundo Balbinotti Filho, está-se criando um mercado paralelo de sementes que vêm da Argentina, as chamadas maradonas. "No Sul, os produtores já fizeram experiências de plantio com esse tipo de semente. Mas não sabemos como ela vai se comportar em outras regiões. Por isso, o setor perde com experiências mal-sucedidas e com a transferência de verbas para pesquisa e desenvolvimento para outros países", destaca.