Título: Cabe à América Latina apontar país da região para vaga na ONU, dizem EUA
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2004, Brasil, p. A2

O governo dos Estados Unidos considera que a América Latina é que deve escolher qual nação da região será candidata a membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no caso de alargamento desse órgão para refletir a nova estrutura global de poder. A posição americana foi expressa, ontem, pelo sub-secretário-adjunto de Estado para questões de organizações internacionais, Mark P. Logan, em entrevista em Genebra, tocando indiretamente na estratégia da diplomacia brasileira de buscar apoio em todas as regiões do mundo para sua candidatura. "Achamos que as regiões é que devem decidir (quem será candidato), e isso é parte importante no processo de consenso. Mas depois a decisão deve ser tomada por dois terços da assembléia geral da ONU sobre a reforma em geral", disse Logan, que tem "ampla responsabilidade" nas questões relacionadas às Nações Unidas, particularmente administração e reforma da entidade. Fontes do Itamaraty lembraram que a maioria dos países da América Latina e quase todos os países da América do Sul já formalizaram o apoio ao Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. O funcionário americano não quis falar sobre a candidatura brasileira. Mas sinalizou que o Japão é o único, no momento, com apoio de Washington para integrar o seleto clube do órgão encarregado oficialmente de manutenção da paz e da segurança internacional. "A única posição clara que temos tido é que a eficiência do Conselho de Segurança deve ser melhorada e que o Japão tem o pedido mais substancial para ser membro permanente", disse Logan. Ele afirmou que Washington tampouco tem "posição preparada" sobre questões como extensão do direito de veto a eventuais novos membros permanentes. Negociadores vêem sinais de que os países estão preparados para levar adiante a expansão do conselho. Um estudo recente entregue ao secretário-geral Kofi Annan ofereceu duas opções para alargar o Conselho para 24 membros. Brasil, Alemanha, Itália e Índia são considerados candidatos para membros permanentes. Mas o diplomata americano observou ser "interessante" que nenhuma das duas opções propostas a Kofi Annan inclui ampliação do veto a futuros membros permanentes. "Será interessante ver se os principais candidatos vão aceitar isso (não ter o veto) como preço para entrar", comentou. Mark Logan rejeitou observações de que Washington, ao não tomar uma clara posição sobre quem deve se juntar ao Conselho de Segurança, acaba "lavando as mãos", quando se sabe das rivalidades regionais: a candidatura da Alemanha é rejeitada pela Itália, a do Brasil sofre oposição do México, a do Japão contraria a China, e o Paquistão pode bloquear a Índia.